Absorventes internos na berlinda
Já ouviu falar de um xampu que causa câncer? Ou de uma epidemia (sic) de esclerose múltipla provocada por adoçantes artificiais? Notícias como essas circularam pela internet e acabaram por assustar os internautas. A última que chegou ao Brasil – como as outras, anônima – diz respeito aos absorventes internos. Uma mensagem intitulada “Alerta às mulheres” afirma que o produto estaria sendo produzido com amianto, substância mineral que contém magnésio e cálcio, usada na produção industrial e altamente tóxica. Os males que o amianto pode causar à saúde são tema de dezenas de trabalhos científicos – e se referem, em quase 100% dos casos, ao câncer de pulmão causado pela inalação da poeira dessa substância. O amianto, segundo a nota, induziria as mulheres a menstruarem por mais tempo e poderia causar câncer de colo de útero. Além disso, o absorvente interno conteria altas doses de dioxina, componente químico utilizado no processo de clareamento de produtos, com ação cancerígena. Documento assegura que afirmações são improcedentes O “Alerta às mulheres”, que se espalhou pelos Estados Unidos e pela Inglaterra e agora chega ao Brasil, causou alarme entre as consumidoras. A empresa americana Procter & Gamble, fabricante de uma marca de absorvente interno, passou a receber de duzentos a quinhentos e-mails por mês com dúvidas das usuárias. E a agência reguladora de drogas e alimentos nos Estados Unidos, a superconfiável Food and Drug Administration (FDA), contestou com dados técnicos todas as informações. Em documento oficial, a FDA afirmou que o amianto não é usado na fabricação de absorventes internos – não existem registros de que quem usa esse tipo de produto menstrue por mais tempo – e que os níveis de dioxina estão rigorosamente abaixo daquele que o torna detectável nos testes de qualidade, não oferecendo qualquer risco à saúde. Os absorventes internos são feitos de algodão e rayon (fibras de celulose derivadas da polpa da madeira) e o processo de clareamento das fibras produz níveis baixíssimos de dioxina, o que não a torna prejudicial. A Johnson & Johnson do Brasil, outro fabricante de absorvente interno, afirma que segue os padrões de qualidade internacionais. “A FDA provou com bases técnicas a improcedência dessas notícias e nós a divulgamos para as consumidoras que procuraram maiores informações”, declarou a sua assessoria de imprensa. Sem relação direta com casos de doença grave Os médicos são unânimes em afirmar que não existem relatos na literatura médica indicando a ligação de absorvente interno com qualquer tipo de câncer. “A única causa comprovada de câncer de colo de útero é a infecção pelo vírus HPV”, afirma o ginecologista Ricardo Chazan, do Hospital do Câncer, em São Paulo. O ginecologista Marcos Desidério Ricci, do Hospital das Clínicas de São Paulo, também diz não ter conhecimento desse tipo de efeito. “O que se sabe é que o uso continuado de absorvente interno pode causar doença inflamatória pélvica em algumas mulheres”, diz. Mas isso não quer dizer que promova o câncer. “Soam a especulações sem nenhum fundamento”, acrescenta Chazan. Até porque os absorventes internos são usados há tantos anos pelas mulheres que a comunidade médica já teria feito um sério alerta caso provocassem, de fato, algum mal. Matéria de julho de 2000