A arte de ficar zen

Nepal, encravado na encosta meridional do Himalaia. Do sânscrito nipa e alaya: "país ao pé da montanha". Ou vá para a Índia, do mestre Maharishi Yogi. Você ainda está ai? Tudo bem, não tem problema. Os nepaleses e os iogues já desceram a montanha. Dentro de sua majestosa simplicidade nos deram um único e definitivo recado: “relaxem”. A prática da meditação pode ser um eficiente contrapeso para estabilizar organismos estressados, inseguros, em busca de saúde. Foi desenvolvida há milênios, no Oriente, e passou a fazer sucesso em todo o mundo a partir dos anos 60, com a chegada dos movimentos alternativos. Meditação não tem nada a ver com religião, principalmente no Ocidente. Sua definição é tão ampla que associá-la à crença no divino seria apenas mais uma maneira de praticá-la. É um processo intelectivo e busca o autoconhecimento. Caso fosse praticada em grande escala muitos problemas poderiam ter impacto menor sobre a vida humana: a violência generalizada, o uso abusivo de drogas, crises existenciais, doenças de fundo psicossomático, o comer demais. Uma pesquisa feita pela Sociedade Psicossomática Americana mostrou que a incidência de internações por problemas cardiovasculares é 87% menor entre pessoas que fazem meditação. Em São Paulo, o Hospital do Servidor Público Municipal oferece a meditação como mais uma alternativa aos pacientes internados. De uso praticamente irrestrito, pode ser usada tanto na recuperação psicológica dos pacientes quanto para aliviar, por exemplo, efeitos colaterais da quimioterapia. Mais que sono - Como a meditação promove a liberação de calmantes naturais produzidos pelo organismo, há uma melhora imediata da disposição, inclusive em alguns casos de depressão. Márcia de Castilho, professora da Sociedade Internacional de Meditação, em São Paulo, define: “Leva a um repouso mais profundo do que o próprio sono. Dissolve o estresse e as tensões do sistema nervoso”. Ela diz que a meditação relaxa o corpo e ajuda no autoconhecimento. Uma ferramenta de uso interno e que melhora o quadro geral do indivíduo. Márcia especializou-se em meditação transcendental. Defende a prática duas vezes por dia, todos os dias. “Está provado que a meditação ajuda a prevenir doenças, principalmente as psicossomáticas. Surgiu há mais de cinco mil anos e já foi mais do que testada”. Não existem estatísticas precisas sobre o número de pessoas que praticam a meditação no Brasil. O que se sabe é que aumentam a cada dia as ofertas de cursos, centros especializados, eventos para discutir o assunto. Em um mundo insatisfeito com a medicina tradicional e onde as religiões ficam mais parecidas a cada dia, a meditação tornou-se também uma espécie de “religião do indivíduo”. Cada um busca entrar nas profundezas de si mesmo e entender o mundo a partir do próprio inconsciente. Quebrando tabus - A técnica rompeu tabus até nos Estados Unidos, país que sempre resistiu às práticas orientais, consideradas “alternativas”. Em Nova York, desde 1998 a meditação está incluída no programa de medicina integrada do Centro de Câncer do Memorial Sloan-Kettering. Algo que dez anos atrás seria impensável: em um dos hospitais mais tradicionais dos Estados Unidos os pacientes têm sessões de massagem, acupuntura e meditação. Alguns especialistas no assunto, entretanto, fazem críticas severas ao uso da meditação como forma de terapia. Como o mestre De Rose, presidente da Confederação Nacional do Ioga. Ele é enfático: “A meditação praticada de forma errada pode jogar a pessoa no manicômio”. Ele, inclusive, não vê muita eficiência na prática da meditação por si mesma. “É apenas uma das partes do ioga, não pode ser praticada de maneira desassociada”. Diante do "modismo" que provocou a proliferação de centros de meditação, nunca é demais procurar referências antes de se matricular em algo que pode apenas tomar seu dinheiro. Imagens, quadros, velas, almofadas, CDs... Meditação também virou comércio de quinquilharias. Para meditar não é preciso luzes coloridas ou música de fundo. O importante é fazê-lo da maneira correta. Mais vale um instrutor bem treinado do que um incenso perfumado.