A difícil relação entre sogra e nora
Elas são mais difamadas que juiz de futebol e freqüentemente estão bem no meio das brigas de casal. Já viraram estereótipo e dificilmente conseguirão se livrar do estigma que ganharam com o passar do tempo. E não é para menos. Uma pesquisa realizada em Porto Alegre (RS) revelou que um em cada três divórcios é provocado pela interferência da sogra na vida conjugal do filho. Ao todo, foram analisadas 600 separações na região metropolitana da capital gaúcha. O levantamento serviu de base para a elaboração do curso Relações Familiares entre Sogras e Noras, promovido pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (Unisinos), de São Leopoldo (RS). Criado em 1998 pelo sociólogo Marco Antonio Fetter, o projeto atende vinte alunas, que discutem durante três horas por semana o conturbado relacionamento que mantêm com as mulheres dos filhos. Janela aberta, porta fechada Com a experiência que adquiriu nesses três anos de curso, Fetter constatou que o problema começa no berço da família. Muitos filhos não conseguem se desvincular dos pais, mesmo depois de casados. O resultado é a influência negativa que a mãe acaba tendo na vida conjugal. “Ainda vivemos em uma sociedade machista, em que a mulher é criada para ser a boa esposa e a boa mãe, enquanto o homem tem de ser doutor”, diz. “Por isso, se o casal deixa a porta aberta, a sogra entra. É preciso abrir apenas as janelas, ou seja, deixar um espaço que proporcione a convivência, mas impeça a interferência.” Segundo o sociólogo, a sogra passa a influir na organização da casa de tal modo que entra em conflito com a nora. “Ela acha que o casamento só vai ser feliz quando a nora for igual a ela. Assim, passa a querer gerenciar os hábitos, o lazer e até o dinheiro”, afirma Fetter. “A maioria das sogras que procuram o curso diz que precisam melhorar a vida dos filhos.” Ciúme e competição O sociólogo ressalta outro aspecto peculiar dentro desse contexto: o ciúme e a competição. Segundo ele, isso acontece porque a sogra percebe uma relação (a conjugal) que, evidentemente, não teve com o filho. “É preciso entender que ser sogra não é ser esposa. Isso parece óbvio, mas em muitos casos a mãe pretende ocupar um espaço que não é o dela. Passa a querer controlar até a alimentação e o jeito de se vestir do filho”, analisa. “A partir daí, começa a fazer vários tipos de comparação, sobretudo com a beleza e a juventude da nora.” Apesar de todos esses conflitos, o sociólogo destaca que a sogra tem um papel importante na vida conjugal do casal. “Ela precisa assumir uma função social e não política. Ou seja, proporcionar uma convivência saudável, colaborar para a formação de outra família. E entender que a casa do filho não é uma extensão da sua.” Matéria de outubro de 2000