A ditadura do sexo

10 Ago

Na década de 60, as mulheres queimaram sutiãs em praça pública e lutaram por liberdade sexual. Elas queriam ter direito ao prazer e dizer não à repressão da família e da sociedade. Deu certo. O problema é que deu certo até demais. Hoje, mulheres e homens são quase que intimados a apresentar um bom desempenho na cama e a ter uma vida sexual ativa, como se não tê-la fosse sinônimo de fracasso. Disseram adeus aos preconceitos, mas pagaram o preço de – em plena virada de milênio – viverem numa espécie de ditadura do sexo. Um exemplo disso é a obrigatoriedade do orgasmo, principalmente no caso das mulheres. Muitas fingem que chegaram ao ápice do prazer só para não correrem o risco de perder o parceiro. Segundo a sexóloga Sandra Baptista, é necessário desvalorizar o orgasmo e voltar a curtir a relação como um todo: “As pessoas querem ser atletas de triathlon na cama como se estivessem participando de uma disputa.” Se não conseguem ter o desempenho esperado, homens e mulheres acabam se sentindo com baixa auto-estima, pouco desejáveis. O problema, diz a sexóloga, é que elas se baseiam em padrões externos e buscam segui-los, indo contra seus próprios gostos e crenças. É o caso da mulher mais comedida sexualmente que resolve ser moderna e fazer sexo na primeira noite em que sai com um homem. No dia seguinte, ela corre o risco de se sentir mal com a situação. Revolução sexual às avessas Depois de séculos de rédeas curtas no terreno da sexualidade, as pessoas – principalmente as mulheres – decidiram virar a mesa e viverem o corpo com mais liberdade. “O problema é que elas partiram do proibido para o totalmente permitido. E agora do permitido para a obrigação. Os padrões sexuais vêm seguindo o fluxo da moda. O que era bonito ontem não é mais hoje”, diz Sandra. O que era para ter sido uma revolução sexual, virou ditadura. Na tentativa de se adaptar a tanta modernidade, surgem os conflitos. Muitas vezes, as pessoas adotam comportamentos que vão contra o que elas desejam. “Forçar a barra para ser mais avançada, com certeza, gera conflitos. Antigamente, as mulheres eram coagidas a permanecerem virgens até o casamento. Hoje, a adolescente que ainda não perdeu a virgindade é questionada pelas amigas e até ridicularizada”, diz Sandra. Para Oswaldo Rodrigues Jr., psicólogo do Instituto Paulista de Sexualidade, nem todas as pessoas cedem a essa pressão externa. São determinadas características de personalidade que as levam a ter um comportamento ansioso, excessivamente preocupado com o que se espera delas sexualmente. “As pessoas muito preocupadas com o desempenho sexual e em seguir padrões vigentes, na verdade, usam o assunto como pretexto para dar vazão à ansiedade. A cobrança não é externa, mas sim interna”, diz ele. Segundo Oswaldo, se não fosse a vida sexual a origem da ansiedade, poderia ser a economia do país ou o futebol. O sexo acaba virando mais uma forma de lidar – mal – com a ansiedade. Para evitar as conseqüências negativas desse comportamento, Sandra Baptista sempre aconselha aos clientes que “antes de tomar o porre, pensem na ressaca do dia seguinte”. É uma das maneiras de se machucar menos e viver a sexualidade de forma mais integrada.