A enxaqueca do corpo
Aquela dor que você sente por todo o corpo e nenhum médico ainda conseguiu diagnosticar com precisão pode ser sinal de uma doença que tem prevalência de 5% na população brasileira. Apesar de ser um problema que existe há décadas, a fibromialgia passou a ser estudada com mais profundidade somente nos últimos dez anos. Trata-se de um tipo de reumatismo que não apresenta infecções, caracterizado por dores acima e abaixo da cintura, para esquerda e para direita, na coluna e nos membros. Os sintomas mais associados são distúrbio do sono e, na maioria dos casos, ansiedade e depressão. Esses problemas provocam alterações no humor e afetam diretamente o rendimento das pessoas nas tarefas cotidianas. Reflete, assim, na disposição e no desempenho profissional. “A fibromialgia não está relacionada à insônia, mas os pacientes que são acometidos por esse mal não têm um sono profundo, restaurador”, explica a reumatologista Valéria Valim, professora da Universidade Federal do Espírito Santo. Segundo a médica, a doença está associada à redução do nível de serotonina no cérebro, um neurotransmissor responsável pela inibição da dor. Neurotransmissores são substâncias que fazem a comunicação entre os neurônios. “Conhecemos esse mal como a enxaqueca do corpo. Algumas pessoas têm uma predisposição maior para níveis baixos de serotonina. É um perfil do paciente fibromiálgico”, diz. “Ainda não sabemos porquê, mas atinge, sobretudo, mulheres entre 35 e 50 anos. A proporção em relação aos homens é de nove para um”, acrescenta. Diagnóstico e tratamento O diagnóstico é feito a partir da análise de 18 pontos específicos espalhados pelo corpo, como cabeça, braço, costas e pernas. Para ser determinado com precisão, é necessário que o paciente sinta dor em pelo menos 11 desses locais. A principal dificuldade que os médicos encontram, no entanto, é que o resultado dos exames complementares para identificar o motivo das dores é sempre normal. “Isso acontece porque a região dolorida nunca apresenta alterações inflamatórias”, esclarece Valéria. Para o tratamento da fibromialgia, geralmente são prescritas pequenas doses de antidepressivos. Esse tipo de medicamento aumenta o nível de serotonina, aliviando, assim, as dores localizadas. No entanto, apenas 30% dos pacientes apresentam melhora significativa. “É um resultado parcial. Por isso, estudamos os efeitos de outras terapias e concluímos que a prática de atividades físicas é fundamental para o tratamento da doença”, conta a reumatologista. Matéria de Novembro de 2000