A favor do paladar e contra o câncer
O que sempre tirou o sono, principalmente das pessoas com antecedentes familiares de câncer – a segunda doença que mais mata no Brasil, perdendo apenas para as doenças cardiovasculares – é o fato de que não se pode preveni-lo. Ou seja, é preciso contar com os humores do destino (e da carga genética) para desfrutar de uma vida livre da ação destruidora das células cancerígenas. Mas não são poucos os especialistas que relacionam certos tipos de neoplasias malignas (nome científico das anomalias cancerígenas) aos hábitos alimentares inadequados adotados no decorrer da vida. Para começar, eles estão entre as seis primeiras causas de mortalidade da doença, dado abalizado pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), que mantém em sua home page (www.inca.org.br) um capítulo inteiro sobre o assunto. O Dr. Carlos Dzik, oncologista membro da Universidade de Pittsburg e da Universidade de Utah e médico assistente da Escola Paulista de Medicina (UNIFESP), do Grupo Multidisciplinar de Oncologia, é cauteloso ao falar sobre o assunto: “De uma maneira geral, se o planeta adotasse uma alimentação rica em vegetais, hortaliças e frutas frescas teria uma incidência 30% menor de diagnósticos de câncer. Mas será que a dieta alimentar ideal anularia tudo o que uma pessoa de 40 anos já consumiu ao longo da vida?”, questiona o especialista e um dos autores do livro Sabor & Vida – Alimentação para a Prevenção do Câncer, recém-lançado pela Editora Campus. “Ainda não podemos fazer certas afirmações, mas sim, encarar os alimentos como uma ajuda paralela, da mesma maneira que a abstinência de cigarros, drogas e álcool”, pondera o médico. Não se pode, no entato, deixar de lado a influência genética, assim como fatores ambientais (um trabalho que exponha o organismo a muita radiação, por exemplo). "Mas uma alteração na dieta alimentar talvez seja uma das medidas mais importantes para quem tem casos de câncer na família. É preciso ressaltar, no entanto, que para estas pessoas o controle nutricional não basta", alerta o Dr. Carlos Dzik. Ele coloca a necessidade de se fazer um acompanhamento médico bem de perto e realizar os exames para diagnóstico precoce (na verdade, o ideal é que todas as pessoas façam exames clínicos regulares). Comer o quê? Escrito a seis mãos, o livro (que também conta com a participação do Dr. Nestor Schor, livre-docente em Medicina-Nefrologia e a tradutora e intérprete Lise Aron) foi baseado no relatório internacional publicado pelo World Cancer Research Fund em conjunto com o American Institute for Câncer Reasearch que, segundo Dzik, “reúne as teorias de trabalhos epidemiológicos realizados na última década, o material mais honesto sobre o tema”. Informadas, as pessoas poderão fazer a sua parte para reduzir ao máximo as chances de aparecimento de câncer. Gordura O excesso de gordura e, conseqüentemente, calorias na dieta favorece o aparecimento de câncer de pulmão, mama, pâncreas, cólon, útero, ovário e próstata. Por isso, reduza o seu consumo sempre que puder. Você poderá, por exemplo... ...Substituir o leite integral pelo desnatado. ...Optar por queijos brancos em detrimento dos amarelos. ...Evitar frituras, manteiga e banha, assim como alimentos gordurosos como azeitonas, chocolates, nozes, amendoim, abacate e cream cheese. ...Usar azeite de oliva extra-virgem, óleo de canola ou margarina. Carnes Elas são ricas em nutrientes mas, também, uma boa fonte de gordura animal e gordura saturada. Por isso, dê preferência aos peixes, que diminuem o risco de câncer de mama, intestino e ovário, e às carnes de peru e frango, ambas sem pele. Muito cuidado ao consumir carnes de carneiro e de ovelha, já que elas podem ser bem mais gordurosas que a de porco e de boi. Esta última não deve ser consumida por mais do que três vezes por semana, porque aumentam as chances de se desenvolver câncer no intestino, na mama, no pâncreas, nos rins e na próstata. E atenção: se você for um fã incondicional daqueles deliciosos churrascos nos finais de semana, muito cuidado! Alimentos expostos às chamas, grelhados em temperaturas altas ou defumados formam substâncias cancerígenas conhecidas como benzopirenos. Assim como o alcatrão, proveniente da fumaça do carvão. Evite, também, alimentos embutidos como salsichas, salames, lingüiças e companhia. Para conservá-los, os fabricantes utilizam nitratos, que se transformam em nitrosaminas no estômago, consideradas poderosos agentes cancerígenos. Fibras As verduras, as frutas, os legumes, o feijão, as ervilhas, a lentilha, a farinha e os cereais integrais são ricos em fibras, substâncias não digeridas pelo nosso organismo. Elas ajudam a limpar intestino grosso, reduzindo a formação de substâncias cancerígenas, além de dificultar a absorção de gorduras. Além das fibras, as verduras e as frutas também contêm outros fatores protetores contra cânceres dos mais variados tipos. Por isso, não deixe de consumir, no mínimo, 400g de verduras e de 3 a 5 frutas todos os dias. Sal Procure utilizar ervas para temperar suas refeições. A quantidade diária de sal recomendada não deve passar de 3g para crianças e 6g para adultos. Assim evite o consumo de alimentos preservados em sal, como a carne-de-sol e peixes salgados. E depois das compras... É preciso guardar os alimentos de forma a não expô-los a qualquer risco de contaminação. Àqueles mais suscetíveis à ação do tempo, reserve a parte superior da geladeira. Preste muita atenção à aparência das embalagens, que nunca devem estar estufadas ou enferrujadas. As microtoxinas, encontradas em produtos mal conservados, são altamente cancerígenas, por isso respeite à risca as orientações dos fabricantes. Se sua intenção é fazer um suculento molho à bolonhesa, certifique-se de que a carne seja moída na hora da compra. Se preferir levar para casa um peixinho fresco, consuma-o no mesmo dia.