A hora de aceitar a verdade
De leigos a especialistas, muitos acreditam que a aceitação de uma doença grave pode ajudar no processo de tratamento e até de cura. É o exemplo que foi dado pelo governador Mário Covas, que teve seu diagnóstico de câncer divulgado para o público, sem qualquer receio de estar despertando compaixão ou o sofrimento alheio.
Mas o caso do governador de São Paulo é, ainda, uma exceção: seja por medo, superstição ou preconceito, parentes de pacientes e até alguns médicos preferem esconder o diagnóstico, o que só ajuda a doença a se desenvolver. Roger Bonow Mendes, clínico geral, defende o pleno conhecimento da doença por parte do paciente. “Não pode haver mascaramento do médico quanto ao diagnóstico. A notícia deve ser passada de forma esclarecedora, com todas as informações de que o paciente precisa. O profissional também deve apontar qual a qualidade de vida possível em seu estado, sempre com carinho e ternura no momento da explicação para que os resultados futuros sejam melhores”, explica o dr. Roger. Ele acredita que, dessa forma, todos os pacientes estarão livres tanto de doses elevadas de pessimismo quanto de otimismo. Pessimistas entregam-se à doença O caso dos pessimistas, ao contrário, nunca tem apoio dos médicos, pois esses pacientes geralmente se entregam sem resistência à doença, não tomando nenhuma providência em relação à cura.
Em alguns casos, maiores informações podem até piorar o estado de alguns pacientes. Segundo Paulo di Biasi, diretor do Hospital do Câncer, a negação da doença sempre ocorre na fase que se segue à divulgação do diagnóstico, quando o paciente se recusa a acreditar que tem uma doença grave. “Essa negação atrapalha bastante a evolução da cura, pois negando o diagnóstico ele está automaticamente recusando as duras etapas do tratamento. Muitos acabam se resignando com os fatos e até se inflam de um otimismo quanto à cura, mas outros não conseguem ultrapassar essa primeira fase, dificultando enormemente nosso trabalho”, analisa.