A polêmica do ácido fólico

10 Ago

A maioria dos obstetras recomenda uma dieta alimentar rica em ácido fólico para suas pacientes grávidas. Isso porque a vitamina hidrossolúvel ajuda a prevenir malformações fetais e anemia. No entanto, especialistas defendem a tese de que essa substância previne também o aparecimento de doenças crônicas comuns na terceira idade. Ingerir ou não suplementação adicional, no entanto, é uma polêmica que está longe de ser resolvida. A nutricionista e professora do Instituto de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Andréa Abdala, é uma grande interessada no estudo da alimentação de idosos. Ela conta que o ácido fólico impede a elevação de um aminoácido no sangue chamado homocisteína. Este, em grandes quantidades no organismo, aumenta o risco de adquirir doenças. Andréa cita estudos científicos que associam a importância da adequação alimentar do ácido fólico nessa fase da vida: “Muitos deles sugerem sua ligação à redução dos riscos de morbidade e mortalidade para enfermidades como o infarto do miocárdio e o câncer de mama, cólon intestinal e gástrico, por exemplo. Outros mostram que sua deficiência é comum em várias populações e as conseqüências clínicas incluem o aumento das doenças coronarianas e cardiovasculares, riscos de câncer e enfermidades neuropsiquiátricas como a doença de Alzheimer." Sim para a suplementação artificial O ginecologista e terapeuta ortomolecular Dr. Décio Luis Alves lembra que a homocisteína reverte as alterações cervicais precursoras do câncer, além de contribuir para aumentar a pressão arterial, o colesterol e causar arteriosclerose. Em gestantes, ele acrescenta que o ácido é uma das principais substâncias para a formação do tubo neural do embrião, a partir do qual irá se formar seu sistema nervoso central. Uma deficiência significativa durante essa fase pode desenvolver no bebê uma predisposição a adquirir doenças como meningite e, no futuro, apresentar certas deficiências do sistema nervoso como o baixo aproveitamento escolar. Por isso, o médico é a favor da sua suplementação artificial para as gestantes. E argumenta: “Em países nórdicos como a Finlândia, por exemplo, é obrigatório oferecer às mulheres em idade reprodutiva que desejam engravidar uma suplementação de ácido fólico como procedimento de rotina. Lá é um ambiente frio, e se faz muito uso de alimentos enlatados, pobres dessa substância.” A professora do Departamento de Bioquímica do Instituto de Química da UFRJ Nádia Maria Frizzo Trugo concorda com o colega: “O ácido fólico ajuda a prevenir a malformação fetal até o terceiro mês de gestação. Mas, mesmo consumido somente após esse período, ele continua a ser benéfico, pois a grávida precisa de uma quantidade maior do que o normal para o desenvolvimento e prosseguimento saudável da gestação.” Nádia acredita, no entanto, que de nada adiantaria a suplementação como fator de prevenção de doenças para idosos. E explica: “Estudos mostram que o risco de contrair certas doenças realmente é menor, contanto que o ácido fólico tenha sido ingerido de forma adequada ao longo de toda a vida.” Somente uma boa alimentação é suficiente O geriatra Dr. Roberto Lourenço é enfático quando toca no assunto: “Não há uma orientação específica para o uso de ácido fólico como suplementação. Isso só se justificaria no caso de alcoólatras (devido aos problemas de diminuição da ingestão apropriada de alimentos); gestantes e determinadas crianças. Mas na terceira idade, de jeito nenhum.” Para o médico, a falta de ácido fólico pode acontecer por carências alimentares, passíveis de serem solucionadas através de uma reeducação à mesa. Polêmicas à parte, quem quiser enriquecer os níveis de ácido fólico na alimentação diária deve consumir mais grãos integrais como flocos de aveia, de milho, sementes diversas, granola, frutas, vegetais folhosos, leite e carnes magras. “Uma alternativa simples e de boa aceitação seria o consumo destes grãos no café da manhã, substituindo ou não o pão, que é basicamente feito de amido e de pouca densidade nutricional. Esta conduta nos valeria o aumento do ácido fólico no cardápio, sem a preocupação de ganho de peso, desde que exista bom senso e vontade própria inclinadas para a redução de gorduras e açúcares desnecessários”, orienta Andréa Abdala.