A vez dos homens
Quando o assunto é paternidade, ou melhor, o desejo de evitá-la, os homens ainda estão literalmente dormindo no ponto. Pelo menos a grande maioria deles. Os que se preocupam em tomar as devidas precauções de contracepção são raros, as exceções que confirmam a regra. O que significa que, mesmo em pleno terceiro milênio, evitar filhos continua sendo uma questão feminina.
Segundo o sexólogo Marcos Ribeiro, consultor do Ministério da Saúde, tudo funciona mais ou menos assim: quando se trata de prazer, tanto o dele quanto o dela, a responsabilidade é masculina; mas as precauções no sexo, seja como prevenção à Aids e outras doenças sexualmente transmissíveis, seja de contracepção, são da alçada feminina. “Alguns homens preocupam-se, mas são casos isolados, não sinalizam uma mudança no comportamento masculino”, diz Marcos Ribeiro, que está cansado de ouvir frases que exteriorizam a dificuldade do homem em usar preservativo: “chupar bala com papel”ou “pênis encapado”. Mesmo que o cuidado se volta para sua própria saúde, como é o caso do risco da Aids.
Gravidez e contracepção: responsabilidade feminina
A falta de preocupação com a fertilidade é grande e independe de faixa etária. Aparece tanto em homens maduros quanto nos adolescentes, que reproduzem o mesmo comportamento. “Pelo menos até o primeiro susto. Quando uma gravidez indesejada acontece, eles sempre argumentam que imaginavam que a mulher tomava pílula ou usava algum outro método anticoncepcional”, confirma o sexólogo Arnaldo Rismann, do Instituto de Sexologia. Segundo Marcos Ribeiro, há ainda um outro dado na questão: como a gravidez acontece no corpo da mulher, o homem dificilmente se preocupa, já que não vivencia de forma imediata as conseqüências do sexo. Tem, pelo menos, nove meses para pensar no assunto. “E isto não é uma questão isolada de outros comportamentos.
Se ainda é comum que o homem transe e durma, sem se preocupar com o prazer feminino, o que dirá de se preocupar com métodos anticoncepcionais!”, especula o sexólogo. Para ele, inconscientemente, ainda há neste comportamento masculino o desejo de espalhar ao máximo o seu sêmen. Filhos, se acontecerem, são uma prova concreta de sua masculinidade. Arnaldo Risman, do Instituto Brasileiro de Sexualidade, pensa de modo um pouco diferente. Na sua opinião, a ejaculação traduz o desejo inconsciente de ocupar todo o útero, como um ato de posse, uma forma de marcar território. “Não é raro que, em casos de infidelidade feminina, o companheiro tenha dificuldade em ejacular. Como se aquele espaço, que antes era seu, foi ocupado por outro”, diz.