Abstinência, o conselho dos ingleses
Sexo sem proteção pode levar a uma série de problemas, incluindo as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs) e uma gravidez indesejada. Por causa da falta de experiência e de maturidade, os adolescentes são os mais suscetíveis a passarem por um transtorno desse tipo. Para reduzir o risco, o governo britânico vem fazendo várias campanhas educativas, algumas consideradas radicais, como a que propõe que os jovens simplesmente não façam sexo. A eficácia do apelo é discutível. Será que ele funcionaria no Brasil? Para a psicóloga Sandra Baptista, com mestrado em sexualidade, a resposta é não. Segundo ela, o mais importante no trabalho com adolescentes é fornecer-lhes informação. Proibição e julgamentos morais sobre o que é certo ou errado não funcionam. “A educação sexual não deve ser feita em cima de valores, mas sim de informações que possam ajudar o jovem a tomar decisões”, diz ela, que dá aula de educação sexual no Colégio Teresiano, da Pontífica Universidade Católica do Rio. Governo britânico tenta valorizar virgindade e casamento A preocupação do governo britânico se deve ao aumento de casos de DSTs entre os adolescentes nos últimos anos. Além disso, uma pesquisa da Universidade de Edimburgo mostrou que as britânicas estão perdendo a virgindade cada vez mais cedo. Trinta e oito por cento das entrevistadas de 15 anos já tinham tido a primeira relação sexual. Para mudar esse quadro, educadores e autoridades públicas investem na transmissão de valores, nos quais relacionamentos estáveis e casamento ocupam um papel de destaque. Num documento divulgado ano passado pelo Ministério da Educação britânico, lê-se que a educação sexual deve “estabelecer a importância do casamento para a vida familiar, os relacionamentos, o respeito, o amor e o carinho”. Casos de DSTs crescem de forma assustadora A causa do maior número de DSTs entre os adolescentes é a pouca importância que eles dão ao sexo seguro. Ao não usar camisinha, eles se arriscam a pegar Aids, gonorréia, sífilis e outras doenças. Segundo dados do governo britânicos, desde 1995, os casos de DSTs aumentaram assustadoramente, tendo dobrado nos últimos dez anos. Por isso, os médicos têm sido orientados a tentar convencer os adolescentes a adotarem a abstinência sexual. A tática, porém, parece ineficaz à psicóloga Sandra Baptista. Segundo ela, o adolescente precisa ser levado a refletir, a avaliar os riscos que corre ao fazer sexo sem proteção. Mas a decisão é só dele. “A virgindade e o casamento não devem ser mostrados como algo que necessariamente tem valor. A questão não é essa, mas sim o que ele deseja para a vida dele”, diz Sandra. E ao lidar com o adolescente, os profissionais devem conhecer as peculiaridades dessa fase da vida. “Há um lado do adolescente que se sente onipotente, que acha que pode tudo, que nada vai atingi-lo. Então, não adianta tentar forçar algo, proibir a prática sexual. Ele tem a natureza rebelde, contestadora”, lembra a psicóloga. Portanto, qualquer trabalho de educação sexual com adolescentes só terá sucesso se levar em conta a maneira de pensar e agir dos jovens. Sem imposições e preconceitos, é possível levá-los a refletir e a tomar decisões sensatas, o que não implica necessariamente em abrir mão da vida sexual. Matéria de Janeiro de 2001