Abuso sexual na infância deixa mulheres mais vulneráveis ao stress

10 Ago

Estimativas mundiais apontam o sexo feminino como a principal vítima do abuso sexual. Algumas pesquisas sugerem que de cada dez casos, sete envolvem mulheres. Por esse motivo, elas foram escolhidas para um estudo que pretendia medir o quanto histórias de abuso físico ou sexual na infância se refletiam em altos níveis de stress e depressão na vida adulta. A conclusão do trabalho, que acaba de ser publicada no renomado Journal of the American Medical Association, é curiosa. Os pesquisadores selecionaram 49 mulheres entre 18 e 45 anos e as dividiram em quatro grupos: as que haviam sido abusadas na infância e sofriam de depressão, as que não tinham depressão, as que não foram abusadas mas estavam deprimidas e, finalmente, as que não tinham histórico nem de abuso nem de depressão. Após submeter as voluntárias a situações de stress, os cientistas dosaram a quantidade de dois tipos de hormônio: o ACTH – secretado pela glândula pituitária, estimula as glândulas supra-renais a liberarem cortisol (hormônio do stress) – e o próprio cortisol. Resultado: as vítimas de abuso na infância apresentaram doses de ACTH seis vezes mais alta do que as mulheres que não passaram pela experiência traumática. Trauma modifica a química cerebral Segundo os especialistas da Emory University School of Medicine, que conduziram a pesquisa, os dados indicariam que o trauma de infância pode alterar a química cerebral de tal forma que a resposta ao stress fique muito mais acentuada. “Esse estudo é mais uma contribuição para o entendimento dos efeitos do abuso sexual na vida adulta”, diz o pediatra Antonio Carlos Alves Cardoso, do Instituto da Criança de São Paulo. “Já se sabia que essas pacientes sofrem mais de insônia, depressão, pânico e tendências suicidas, além de maior dificuldade de relacionar-se com o sexo oposto.” O avanço da pesquisa americana está justamente em apontar o mecanismo que provavelmente desencadeia essas doenças psiquiátricas. Isso vai ajudar no desenvolvimento de novos remédios direcionados para esses casos. Terapia ajuda a recuperar a dignidade Depressão e stress não são as únicas manifestações típicas de quem sofreu trauma na infância. Automutilações, pesadelos e distúrbios alimentares também são freqüentes. “A bulimia é uma forma simbólica de vomitar o segredo guardado por tanto tempo e toda a raiva reprimida”, diz a psicoterapeuta Marisa Simões Dias, especializada em violência familiar. A terapia ajuda a limpar o ressentimento e a abrir espaço para uma nova vida. “Os pacientes, em geral, perdem a dignidade. Ficam reféns do desejo do outro, não só do abusador, mas de qualquer outra pessoa. O que a terapia tenta mostrar é que o sentimento de dignidade é recuperável. E que é possível se despedir da condição de vítima para a de uma pessoa madura, que consegue se defender”, explica a psicóloga Cristina Greco, de São Paulo. Onde procurar auxílio SIA – Sobreviventes do Incesto Anônimos Caixa Postal 45.446 CEP 04010-970 São Paulo – SP Matéria de agosto de 2000