Adolescentes estão engravidando mais
A gravidez precoce é um problema crescente no Brasil. Dados do Ministério da Saúde indicam que de 1993 a 1998 o número de partos entre meninas de 10 a 14 anos aumentou 31%. No grupo de 15 a 19 anos o aumento foi de 19%. Tudo isso culminou, em 1998, com a enorme lista de 700 mil adolescentes entre 10 e 19 anos que tiveram bebês. Mais dramático ainda são os dados mundiais mostrando que 40% delas engravidam novamente até três anos após o primeiro parto. As meninas brasileiras estão amadurecendo mais cedo, iniciando a atividade sexual mais cedo e engravidando mais cedo. No setor de planejamento familiar da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), os dados são claros. “Observamos que a primeira menstruação ocorre em média aos 12,2 anos, a primeira relação sexual aos 14,7 e a primeira gravidez aos 15,9”, revela a ginecologista Cristina Guazzelli, responsável pelo atendimento adolescente no setor. O que leva a isso Por que essas meninas engravidam tão jovens se existe tanta informação sobre métodos anticoncepcionais e prevenção de doenças sexualmente transmissíveis? Na opinião do ginecologista Carlos Alberto Diegoli, de São Paulo, além de estarem expostas a um crescente apelo sexual, elas se sentem atraídas pelo desejo de ter um bebê para cuidar. É como se inconscientemente desejassem ser mães. Soma-se a isso um sentimento de onipotência que faz o adolescente acreditar que coisas ruins só acontecem com os outros e, então, a não usar métodos anticoncepcionais. Abandono do estudo A gravidez precoce traz sérias implicações para o corpo e para a vida afetiva, escolar e produtiva das adolescentes. Segundo pesquisa nacional sobre demografia e saúde realizada em 1996 no Brasil, 13% das mulheres na faixa etária de 15 a 24 anos haviam abandonado a escola por causa da gravidez. As perspectivas de um bom emprego futuro, portanto, tornam-se escassas. A sociedade não está preparada para receber essa adolescente de volta à escola ou ao trabalho. A auto-estima costuma ficar ainda mais abalada porque, além das transformações físicas que enfrenta, a adolescente dificilmente consegue apoio do parceiro. “No máximo 20% dos garotos têm a atitude madura de assumir o bebê”, afirma a ginecologista Albertina Duarte Takiuti, pesquisadora da Organização Mundial da Saúde (OMS) e coordenadora do Programa do Adolescente da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Essa sensação de abandono deixa a garota fragilizada. Quando consegue outro parceiro não se sente confiante para exigir que ele use a camisinha. E aí acontece a nova gravidez. “Na verdade, continua pensando que nada de ruim vai acontecer com ela e, por outro lado, seus pais acham que ela aprendeu a lição e não a orientam mais”, enfatiza Albertina. Como o organismo reage Para o organismo, uma gravidez antes dos quinze anos é, de fato, inoportuna. Estatísticas mundiais mostram que nessa faixa etária há de 20 a 30% mais riscos de a menina desenvolver um quadro de hipertensão conhecido como pré-eclâmpsia. Segundo Albertina, é comum ocorrer uma mudança brusca no peso e no metabolismo da gestante, mas a adolescente, em geral, se alimenta mal e fica anêmica nesse período. E a anemia pode acarretar problemas renais que intensificam a hipertensão. Mais prematuros O parto prematuro também é mais freqüente. Até dois anos depois da primeira menstruação o útero ainda não atingiu seu tamanho definitivo, o que o torna menos elástico – pode entrar em trabalho de parto no sétimo ou oitavo mês de gestação. O desenvolvimento incompleto do osso da bacia, que só termina aos 16 anos, oferece maior dificuldade à passagem do bebê. Muitas vezes, por isso, é necessária uma cesariana. “Esses riscos podem ser minimizados desde que se faça um bom acompanhamento pré-natal. Só que na maioria dos casos a adolescente tenta esconder a gravidez e só procura ajuda no quinto mês”, alerta Albertina. Outra constatação: aparecem muito mais estrias na adolescente. “Não posso dar uma explicação científica para isso, mas é o que observo na universidade”, diz a ginecologista Cristina Guazzelli. Provavelmente, ocorre um forte e rápido estiramento da pele. Iniciativas do governo Com mais contras do que prós, portanto, a gravidez precoce deve ser inibida. Especialmente a reincidência. É um problema de saúde pública. Em 1998 o governo desembolsou por meio do Sistema Único de Saúde 153 milhões de reais para dar assistência ao parto de adolescentes. Mas, infelizmente, apesar dos altos custos, são poucas as iniciativas estatais para reduzir os índices de natalidade nessa faixa etária. O Ministério da Saúde prevê uma campanha de esclarecimento para o primeiro semestre do ano. Mas nenhum esboço do que será veiculado na mídia começou a ser desenhado. Para saber mais Quem quiser mais informações sobre gravidez na adolescência pode ler os livros: “Ai! Como eu sofri por te amar”, de Albertina Duarte Takiuti (Editora Record); "Gravidez na adolescência - o parto enquanto espaço do medo", de Maria Inês Bocardi (Editora Arte e Ciência); "Sexo para adolescentes", de Marta Suplicy (Editora STD) "