Adolescentes, televisão e sexo
Há mais um programa de comportamento voltado ao público adolescente. O Fica Comigo, da MTV, apresentado pela modelo Fernanda Lima, é uma espécie de namoro na TV, referência ao quadro que Silvio Santos mantém, com sucesso, em sua rede. A diferença é a fórmula: um rapaz permanece em uma sala sem pode ver as candidatas, que se inscreveram pelo site da emissora e foram selecionadas previamente pela produção com base nas características que o garoto havia determinado. Mas o jovem pode conversar com as meninas e até tocar algumas partes do corpo delas, como rosto, barriga ou pés. “O objetivo é fazer um mapeamento do comportamento dos jovens. O que eles pensam e como se relacionam”, diz o diretor do programa, Ric Ostrower. Com muito humor, as garotas vão sendo eliminadas até restar a candidata com maiores chances de namoro. Só nesse momento o jovem pode vê-la. E tem de decidir. Se der um beijo no rosto é amizade, na boca, namoro. Solidão e muitas dúvidas Pelas quinze mil inscrições computadas no site da MTV para o primeiro programa, o Fica Comigo chamou bastante a atenção do público jovem. A explicação talvez esteja nas palavras de Ostrower: “Vivemos em uma época em que as pessoas estão muito sozinhas. E o programa é uma alternativa de aproximá-las, mais até do que as salas de bate-papo da internet, onde as relações são virtuais”. Se o Fica Comigo trata de relacionamento amoroso, o Erótica, programa que vai ao ar na mesma emissora, abre espaço para conversas mais diretas sobre sexo. Segundo a produção, cerca de 600 e-mails chegam diariamente – a maioria de jovens que querem esclarecer dúvidas. Queda na qualidade Os dois programas oferecem informação para jovens entre 15 e 29 anos, fase de muitas incertezas. E têm o mérito de estar tentando falar de sexualidade sem tabu. Mas ainda deixam a desejar na opinião da psicóloga e educadora, Helena Lima, professora da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo. Ela acompanha o Erótica desde o início – há cerca de dois anos – e lamenta a queda de qualidade. “Acho que o programa decaiu, perdeu a característica educativa que tinha. No começo, evidenciava a grande preocupação que a juventude tem em saber se é normal ou não. E prestava um serviço ao explicar que normal é o que se tem sob controle e doentio é aquilo que domina”, diz. “Hoje, os comentários do Júlio (um dos mediadores do programa) têm um olhar reacionário, machista e preconceituoso.” O novíssimo Fica Comigo não se propõe a aprofundar questões de sexualidade, mas permite que o jovem tenha uma experiência diferente. “O adolescente que vai ao programa pode até levar um fora, mas o mais importante é que teve a coragem de ir lá e, na frente de todo mundo, dizer que quer encontrar alguém para namorar. Esse é o maior ganho, assumir a vontade de não ficar mais sozinho”, diz a psicóloga. Helena faz coro à tese de que se fala demais sobre sexo e de maneira superficial e pouco reflexiva. “É necessário que as pessoas conversem mais sobre a sexualidade e que ela seja uma referência de saúde. Os programas poderiam colaborar mais nesse sentido.” Matéria de outubro de 2000