Alto risco na espera
A notícia de uma gravidez desejada é sempre motivo de alegria. Ou quase sempre. No caso de uma prenhez ectópica, quando o ovo é implantado fora do útero, a felicidade dá lugar a muita preocupação. Isso porque, em alguns casos, este tipo de gravidez causa hemorragia interna e pode levar a mulher à morte. Embora rara, a prenhez ectópica tem uma incidência significativa, atingindo de 0,3% a 1% das brasileiras. Para evitar casos extremos, em que a trompa se rompe, provocando hemorragia interna, o ideal é que se detecte a gestação logo nas primeiras semanas. "Na maioria dos casos, o abortamento tubário é o procedimento mais comum", diz a ginecologista Fernanda Cazarin. Nas primeiras semanas, da mesma forma que em uma gravidez uterina, a mulher sente enjôos, os seios aumentam e ela para de menstruar. Mas os sinais de que algo realmente não vai bem logo aparecem: são dores no baixo ventre, especialmente após as relações sexuais, e um pequeno sangramento. Nos quadros mais agudos, a mulher sente dores violentas, apresenta palidez e transpiração excessiva. O que é A gravidez tubária representa 98% a 99% dos casos de prenhez ectópica. E ocorre quando o óvulo fecundado se instala na parede das trompas, onde passa a se desenvolver. Este tipo de gravidez pode acarretar na morte precoce ovular com completa absorção do ovo pelo corpo; na expulsão do ovo para a cavidade peritonal com hemorragia abdominal ou na perfuração tubária, o mais comum. "Não há como levar uma gravidez dessas adiante. A trompa não tem elasticidade suficiente, como o útero, para comportar um feto", explica Fernanda Cazarin. Quando esta trompa atinge o limite, ela se rompe, causando hemorragia, que é justamente a perfuração tubária. "Já soube do caso de um embrião de 2 meses na trompa, mas que teve de ser retirado",diz Fernanda. Os testes específicos de sangue, como o BHCG, detectam a gravidez, mas a certeza de que se trata de uma ectópica depende da associação dos sintomas a outros exames. A ultrassonografia possibilita uma visão do útero e de uma área aumentada do lado. Geralmente, o ultrassom é feito mais de uma vez. Diagnosticada a gravidez ectópica, a trompa deve ser retirada. Desta forma, se elimina a possibilidade de um rompimento. Mas, quando a mulher não tem a outra trompa ou apresenta problemas em uma delas, os médicos tentam uma cirurgia apenas para a retirada do embrião. "Muitas vezes, este tipo de procedimento faz com que a trompa fique áspera, aumentando os riscos de a mulher voltar a ter uma gravidez tubária", diz a ginecologista Fernanda. Ao contrário do que muita gente pensa, a retirada de uma das trompas não implica na impossibilidade de a mulher vir a ter uma gravidez normal. "Depois de uns seis meses, a mulher pode engravidar novamente e não ter qualquer problema, mas ninguém pode garantir que no futuro não ocorra o mesmo problema na outra trompa", explica Fernanda Cazarin. A prenhez ectópica não é genética, nem tampouco hereditária. E para evitá-la, basta tomar alguns cuidados básicos. Ir ao consultório ginecológico, pelo menos de seis em seis meses, fazer o preventivo, sem esquecer, claro, a atenção com a higiene íntima. Outras causas também podem provocar este tipo de gravidez, como a endometriose, operações anteriores, malformações e doenças inflamatórias pélvicas. As trompas As trompas são tubos ocos, que partem dos bordos superiores do útero e se estendem de cada lado da pelve por 8 a 12 centímetros. Cada tubo tem a largura de um lápis e na extremidade mais distante se abre em forma de cálice. Os tubos são formados por uma camada externa muscular e uma membrana interna recoberta de cílios. Estes produzem um movimento ondulatório que ajuda o óvulo a descer para o útero e também ajuda o esperma a subir pela trompas para alcançar o óvulo. A função das trompas é transportar o óvulo liberado pelo ovário para a cavidade uterina e permitir ao esperma o acesso ao óvulo. Todo cuidado com as trompas é pouco. Uma infecção, por exemplo, pode causar esterilidade, formação de abcessos, propagação de infecção pela cavidade abdominal e também gravidez tubária.