Antidepressivo para a ejaculação precoce
Aproximadamente 30% dos homens compartilham de um mesmo desejo: conseguir controlar a ejaculação precoce, a mais comum das disfunções sexuais masculinas. Entre os tratamentos disponíveis, a psicoterapia é a opção número um, porque o problema costuma estar relacionado à ansiedade. Esse sentimento acaba levando o homem a ejacular contra a sua vontade e antes da hora. Só quando o trabalho psicológico não obtém sucesso – e isso pode acontecer com pacientes que não aceitam a terapia –, o tratamento medicamentoso passa a ser a alternativa mais viável. Nessa área, pesquisas recentes indicam que a trazodona, princípio ativo de um antidepressivo, tem obtido bons resultados. No Brasil, um estudo feito com 47 homens, entre 20 e 40 anos que apresentavam ejaculação precoce há pelo menos seis meses, constatou que a trazodona foi capaz de contornar o problema em 59% dos casos. Os pacientes – todos do Hospital São Paulo – foram acompanhados durante um semestre. Nesse período, a recomendação era que tomassem um comprimido do medicamento (50 miligramas) por dia. Quinzenalmente, tinham de responder a um questionário sobre a melhora sexual observada. Resultados estimulantes Os resultados apontaram melhora progressiva no controle ejaculatório de acordo com o tempo de uso da medicação. Em 15 dias de tratamento, 49,9% dos pacientes relataram que haviam melhorado. Os efeitos colaterais, como náuseas e sonolência, decresceram à medida que os meses passavam. Nos primeiros dias, 61% dos voluntários apresentaram queixas. Depois de dois meses, essa porcentagem baixou para 18,8%. “É um índice muito bom se pensarmos que outros antidepressivos funcionam em 30 a 40% dos pacientes”, avalia Joaquim de Almeida Claro, professor-assistente de Urologia da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) e coordenador da pesquisa. O uso de antidepressivos no controle da ejaculação precoce não é novidade. Está provado que funciona, embora não se saiba exatamente como. “A hipótese é de que a droga permite maior circulação da serotonina, um dos hormônios responsáveis pela sensação de bem-estar (por isso funciona contra a depressão) e que pode estar ligado ao mecanismo da ejaculação”, diz Claro. Efeito vasodilatador A vantagem da trazodona é de que está associada também à melhora da ereção. Segundo o urologista, 40 a 42% dos pacientes estudados confessaram que adquiriram maior facilidade para manter a ereção por causa do remédio. Esse efeito se deve à ação vasodilatadora da droga, que permite o intumescimento prolongado do pênis. Como resultado, houve aumento da auto-estima e da autoconfiança. A pesquisa feita por Claro serviu de modelo para que outros centros de urologia testassem a droga. “Mais 22 centros, entre universidades e clínicas particulares, repetiram a experiência acompanhando cerca de 900 pacientes”, afirma. A eficácia do medicamento se confirmou. A única incerteza recai sobre o efeito placebo, espécie de melhora condicionada. “Para saber se o remédio estava funcionando confiamos nas respostas dos pacientes”, diz Claro. O mais correto seria um estudo duplo-cego, prática em que o paciente e o médico não têm conhecimento do que estava sendo tomado ou receitado, respectivamente. Matéria de outubro de 2000