Aposentadoria para a chupeta

10 Ago

Quantos de nós, quando éramos crianças, abandonamos a chupeta ou o hábito de chupar o dedo diante de argumentos como: “Desse jeito você vai ficar dentuço como a Mônica...” Mas não é que a idéia tem fundamento? É o que afirma a dentista Lenise Velmovitsky, professora assistente do Curso de Odontologia da UFF, mestre em Oclusão pela USP e aluna de Pós-Graduação em Odontologia Estética da Universidade de Nova Iorque. Acostumada a tratar de sorrisos de crianças, a especialista lista esse e outros problemas provocados pelo prolongamento excessivo de ambos os hábitos: Desvio na dentição do crescimento maxilar; Mordida aberta anterior (os dentes de cima não tocam os de baixo); Espaços aumentados entre os dentes (diastemas); Mordida cruzada posterior (por falta de contato, os dentes posteriores crescem tortos, invertendo seu encaixe); Alterações na fala por interposição da língua; Alterações na deglutição e O bico constante na boca impede o contato entre os lábios, ocupando o espaço funcional da língua. Diante de riscos como esses, seu instinto é abandonar o computador imediatamente e se apressar em jogar fora todas as chupetas do seu bebê de seis meses, não é? Ou, então, colocar um vidro inteiro de pimenta malagueta nos dedinhos do sobrinho de dois anos? Pois saiba que até os três anos de idade, esses hábitos são instintivos e não fazem mal. A criança experimenta o que os médicos e psicólogos chamam de fase oral. Nessa época, é a boca que dá prazer e ciência das coisas: tudo tem que passar pelo seu crivo. E mais: ambos os hábitos –chupar o dedo ou a chupeta – têm poder calmante. Ou seja, confere prazer, tranqüilidade e segurança. Não é à toa que chupeta, em inglês, chama-se pacifier, aquilo que acalma... Passada essa fase, a chupeta e o dedo podem interferir na formação da boca e dos dentes. Aí sim, é preciso afastar a criança desses hábitos, sempre de forma natural e gradativa. Se o afastamento demandar um pouco mais de tempo, tenha paciência. Velmovitsky afirma que as alterações bucais causadas pela sucção podem ser evitadas em tempo. E que as crianças que chupam chupeta demasiadamente nem sempre são candidatas a usar aparelhos ortodônticos mais tarde. No entanto, diante de prejuízos reais, como a alteração na deglutição, é preciso agir rapidamente. Sem pressa ou chantagem - Você deve estar pensando: “Mas meu filho abre o berreiro cada vez que tento convencê-lo a jogar fora a chupeta. Então, qual é o método ideal?” Não existe uma fórmula de bolo. O importante é não causar traumas na criança. “Essa história de colocar pimenta ou mostarda na chupeta ou no dedo não passa de uma motivação negativa”, alega o Dr. Eduardo Figueiredo Salles, titular da Sociedade Brasileira de Pediatria. E dá uma dica: “A partir dos seis meses de idade, já é possível começar a trabalhar essa separação. Quando o bebê estiver em sono profundo, retire a chupeta da sua boca. O subsconciente começa a acostumar-se com essa ausência”. A Dra. Maria Cristina Milanez, especialista em Terapia Familiar Sistêmica pela Núcleo Pesquisas, do Rio de Janeiro, concorda com o pediatra: “É preferível que se consiga substituir esses hábitos aos poucos, nada muito drástico. Caso contrário, a criança fica desconfiada e encontrará dificuldades de acreditar de novo. Se ela for um pouco mais sensível, pode acreditar que as coisas boas tendem a sumir.” Por isso, nada melhor do que um acordo comum entre as partes. Alternativas existem muitas e cada casal saberá encontrar a melhor maneira de lidar com seus filhos. A Dra. Milanez dá a dica: “Aproveite as datas especiais como Páscoa, aniversário, Natal e Dia das Crianças. Até o Dia da Independência é uma boa ocasião para tentar um acordo com seu filho”, diz a Dra. Milanez. Ou seja: “Você já é uma mocinha, está na hora de ser independente como o papai e a mamãe! O que você acha?” Outra maneira de convencer o pequeno a abandonar a chupeta é utilizar a figura do Papai Noel ou do Coelhinho da Páscoa: “Olha, vamos colocar a chupeta na janela. O Papai Noel vai pegar e derreter para fazer brinquedos novos para o ano que vem...” Lançar mão do personagem de desenho animado favorito também funciona. Fale para a criança colocar a chupeta debaixo do travesseiro na hora de dormir. Durante a noite, o “herói” pega o objeto e deixa um brinquedinho no lugar. “A criança tem que sentir que não está perdendo. É importante trabalhar a troca”, orienta a especialista. Quanto ao dedo na boca, dizem que não há nada como um novo amor para substituir outro: “Então, por que não oferecer comidinhas gostosas como palitinhos de chocolate, doces mais durinho e pirulitos em substituição ao dedo ou à chupeta?” Enfim, o objetivo é tornar esse momento o mais democrático e natural para a criança. As chances de sucesso são bem maiores, acredite!