Aprendizagem: uma questão emocional
O interesse pelas aulas diminui, as notas começam a baixar, a professora reclama do desempenho da criança. Essa pode ser a forma como o problema se apresenta pela primeira vez para os pais: o filho está com dificuldades de aprendizagem. Antes de se preocupar demais e pensar que a sua criança não é tão inteligente quanto as outras, vale a pena conhecer as mais recentes teorias sobre o assunto. Segundo estudos internacionais, apenas de 0,5% a 2% dos casos são provocados por lesões cerebrais. A maioria das crianças que apresentam o problema (cerca de 98%) está motivada por questões emocionais e psicológicas. Dificuldades de aprendizagem serão um dos temas tratados no 57o Curso Nestlé de Atualização em Pediatria, que acontece de 11 a 16 de junho, em Belo Horizonte. No evento, os pediatras discutirão a melhor forma de lidar com o problema e quais as suas principais causas. Segundo a pediatra Jussara de Azambuja Loch, presidente do Departamento Científico de Saúde Escolar da Sociedade Brasileira de Pediatria, o apoio dos pais é fundamental para que o problema seja resolvido. Dependendo do caso, o tratamento poderá incluir profissionais de outras áreas, como neurologistas e psicólogos. O mais importante, porém, é não culpar a criança pelas dificuldades que ela apresenta, não lhe colocar o rótulo de fracassada. Vários pontos devem ser observados, inclusive a própria competência da escola e a sua abordagem pedagógica. Depois, é preciso avaliar o momento pelo qual a criança está passando. Morte de pessoa próxima ou separação dos pais costumam ser fatos desencadeadores de dificuldades escolares. Dificuldade pode ser mecanismo de defesa da criança Para a psicanalista Regina Lessa, da Sociedade Psicanalítica do Rio de Janeiro, a dificuldade de aprendizagem pode ser, em muitos casos, um mecanismo de defesa. “Aprender significa saber das coisas, avançar. Por algum motivo, a criança pode resistir a essa mudança. Nessas situações, o desgaste emocional pode ser tão grande que acaba afetando a capacidade intelectual, que é herdada geneticamente”, disse ela. Por isso, é tão importante a participação dos pais no processo de superação do problema. Estressar a criança com cobranças e críticas pode piorar muito o quadro, fazendo-a sentir-se ainda mais fragilizada. Segundo Regina, porém, o problema pode ser resolvido facilmente em determinados casos. Basta a criança elaborar o que a está incomodando e pronto, o problema é resolvido imediatamente. Ela cita um exemplo de uma criança de 5 anos que não conseguia aprender a ler de jeito nenhum. Depois de cinco encontros, ela superou as dificuldades, sem que houvesse nenhuma intervenção da profissional. “Dependendo do caso, uma catarse basta para que a criança resolva o problema. Não é passe de mágica, mas apenas a criança colocando para fora o que a incomoda.”