Aromas do bem

10 Ago

Um bom aroma pode fazer muito mais do que apenas perfumar. Folhas, flores e cascas, transformadas em óleos aromáticos, têm usos amplos. Suas propriedades calmantes, tônicas, antibactericidas, adstringentes e mesmo afrodisíacas, podem ser empregadas tanto para atenuar o estresse de um dia agitado quanto para tratar de problemas estéticos. Presentes em quantidades bem pequenas em todas as plantas, os óleos essenciais são sua força vital. Cada um deles tem um efeito curativo próprio, específico, que pode ajudar o organismo humano a restabelecer a harmonia de suas diversas funções e devolver o equilíbrio entre corpo e espírito. "Como possuem moléculas menores do que as dos óleos sintéticos e minerais, os óleos essenciais são absorvidos pelos poros, penetram na corrente sanguínea e são metabolizados pelo organismo", explica o aromaterapeuta Helder Carvalho, um dos fundadores do Instituto Aurora, no Rio de Janeiro. Extraídos de flores, como as da lavanda; de folhas, como o alecrim; de cascas, como a canela; de sementes, como a erva-doce; de resinas, como a mirra; de cascas de frutas, como a laranja e a bergamota; ou de raízes, como a do vetiver, estes óleos têm inúmeras aplicações, a partir de suas propriedades terapêuticas. "A milenar medicina ayurvédica, dos indianos, prescrevia estes óleos contra diversos males", diz. Helder Carvalho. Um recurso tão antigo quanto a humanidade Os primeiros usos da aromaterapia remontam a civilizações antigas: Egito, China e Índia. Foram os indianos que mais os usaram, em massagens terapêuticas ou ingeridos. Mas a aromaterapia tal como a conhecemos foi criada a partir das descobertas do químico e perfumista francês René Maurice Gatefosse, no início do século 20. Ele redescobriu as propriedades terapêuticas dos óleos essenciais a partir da própria experiência, quando se queimou num acidente de laboratório. Desesperado de dor, mergulhou o braço machucado num recipiente de óleo de lavanda. E observou que, além do alívio imediato, a pele cicatrizou mais rápidamente e ficou sem marcas, ao contrário do que esperava. Foi o ponto de partida para que Gatefosse começasse a estudar a ação de regeneração celular do óleo de lavanda e de outros óleos aromáticos. Ao batizar suas descobertas como aromaterapia, ele começou a difundir um conhecimento que seus seguidores passariam ao resto da Europa. Mais recentemente, os aromas voltaram a ganhar a atenção não apenas dos seguidores de terapias alternativas, como da indústria cosmética, que passou a incorporá-los em diversos produtos. A extração dos óleos, no entanto, exige uma enorme quantidade de plantas — para um litro de óleo de rosas é preciso uma tonelada de pétalas. Por isso mesmo, geralmente ele é refinado e diluído em outro óleo vegetal que lhe sirva de veículo. «Exatamente devido a esta diluição, é preciso escolher óleos de boa qualidade e procedência», adverte. Helder enfatiza a necessidade de uma indicação criteriosa para cada caso. "É preciso haver uma avaliação detalhada do paciente, conhecer os diversos fatores que podem estar contribuindo para determinada manifestação. E saber que um óleo pode não ter igual efeito em pessoas diferentes, mesmo que elas apresentem sintomas semelhantes. O que é natural. Afinal, igual problema pode ter causas distintas, em pessoas diferentes», ressalva. Depois da avaliação, é preciso saber sob que forma a aromaterapia será mais adequada a cada caso: se diretamente, com massagens ou em aplicações tópicas - que tanto podem ser feitas sobre a região problemática como sobre os meridianos da acupuntura. Ou indiretamente, através de incensos ou da inalação feita com difusores que dispersam o odor pelo ambiente. Mas é preciso estar atento. Embora costume acrescentar uma pequena gota de óleo de menta no chá, para aproveitar seus efeitos digestivos, Helder desaconselha o consumo oral. O risco de se ultrapassar a dosagem correta é grande e o efeito pode ser tóxico. O terapeuta também não costuma indicar a aplicação direta de um óleo essencial puro sobre a pele para evitar possíveis reações alérgicas. O melhor é diluí-lo em álcool ou em outro óleo vegetal, como o de girassol, germe de trigo ou semente de uva. Para evitar riscos, as formas mais seguras são a inalação — modo de aplicação mais usado para problemas emocionais — ou a massagem, para problemas físicos. A esteticista Rosani Sarubbi começou a experimentar a aromaterapia com suas clientes há cinco anos e comprovou na prática sua eficácia: os óleos essenciais potencializam o efeito de máscaras, esfoliantes, cremes de massagem e cosméticos diversos, acelerando o tratamento e melhorando os resultados. Eles podem ser empregados em compressas ou incorporados a cosméticos em tratamentos faciais e corporais. "Levando-se em consideração o perfil do paciente, seu estado emocional e o objetivo terapêutico, escolhemos os óleos e a forma mais adequada para cada caso. "No caso de massagem, a interação é ainda mais visível e os efeitos benéficos são duplos. Além do estímulo à circulação venosa e linfática e do alívio aos pontos de tensão e de contratura muscular que a massagem por si só proporciona, ainda se tem o efeito dos aromas. Através do olfato, eles chegam até o cérebro, provocando sensações de prazer e fazendo com que seus efeitos relaxantes e estimulantes ajam sobre todo o corpo. Conheça os aromas e suas indicações Lavanda - um dos mais versáteis, tem ação cicatrizante e calmante, é analgésico e antidepressivo. É indicado para pessoas agitadas ou com enxaqueca, depressão, insônia, acne, queimaduras, lesões e picadas de insetos. Ylang-ylang - afrodisíaco, atua sobre a impotência e a frigidez, estimulando a libido. Tem também ação sedativa, e seus efeitos calmantes também podem ser sentidos sobre a pele, particularmente as oleosas. Tea tree - de propriedades anti-sépticas documentadas, antifúngico, com incrível poder antiinfecioso, chegou a ser incluído nos estojos de primeiros socorros durante a Segunda Guerra Mundial. Indicado para infecções por fungos, afeções da pele em geral e acne em particular, caspa e cuidados com os cabelos. Rosa - tem propriedades tônicas, adstringentes e depurativas. É indicado contra tensão nervosa, para cuidados com a pele, especialmente as sensíveis e envelhecidas. A água de rosas também é ótima contra rugas e inflamações.