Casal hetero, traição homo
Relacionamentos extraconjugais existem desde o início dos tempos. Mas parece que está aumentando o número de pessoas que aproveitam essa chance para viverem experiências homossexuais...Pelo menos é o que observa em seu cotidiano de trabalho o diretor do Instituto de Sexologia do Rio de Janeiro, Dr. Arnaldo Risman. Ele acredita que hoje há mais oportunidades de quebrar certos tabus e começar a pensar no próprio prazer. “De repente”, raciocina, “as pessoas começam a se permitir certos desejos”. Segundo ele, isso também é reflexo de uma falta que existe em casa, seja de diálogo, de sexo, de afeto. “E acaba se tornando uma descarga. De alguma maneira esse relacionamento alivia a tensão”, conclui. Uma segunda explicação é que, provavelmente, os desejos sexuais existentes antes do casamento encontram alguma brecha para serem expressos mais tarde. Quem diz isso é o Dr. Oswaldo M. Rodrigues Jr, diretor do Departamento de Clínica Psicológica e Terapia Sexual do Instituto H. Ellis - Centro Multidisciplinar para o Diagnóstico e Tratamento em Sexualidade. “Há também a segurança oferecida pelo casamento, ou seja, a pessoa acredita que com ele, de alguma forma, está cumprindo seu dever social e partem para outra”. Há quem acredite, também, que com o advento da Internet, é mais fácil encontrar possibilidades reais de realizar as fantasias homossexuais. Assim, através do computador, não é necessário juntar forças e coragem para ceder a uma experiência sexual com alguém do mesmo sexo. Mesmo que seja somente virtual. Risman conta que esse é o primeiro passo para se entregar de fato à nova experiência. Ou seja, pessoalmente. “Já vi isso acontecer”, relata. Descobriu. E agora? Ser traído geralmente já é um tormento. Há o sofrimento da perda de exclusividade, de confiança, de ingenuidade. Como se diz, o castelo desmorona mesmo. Há lugar, também, para uma tremenda baixa na auto-estima. Afinal, a primeira questão que passa pela cabeça é: Por que outra razão fui traído (a) se não o fato de que falta algo em mim? As respostas, nesse caso, podem ser mais duras e explícitas. “Depois da descoberta, há uma desestrutura total da pessoa traída”, conta o psicólogo. Ele lembra que tudo piora quando o traidor confessa não ter usado preservativo com o amante (o que, infelizmente, não é nada raro): “Conclusão: entregou seu santuário, que é o próprio corpo, para alguém que mal conhecia... Assim, igual a confiança que sente pelo cônjuge com quem convive há bastante tempo”. É curioso comparar as concepções de traição de homens e mulheres. Para eles, transar com outro homem enquanto são casados com uma mulher não é considerado traição. “Traição só quando se relacionam com outra mulher”, Risman revela o raciocínio masculino. Elas não concordam. Além disso, costumam ser bem mais cuidadosas ao pularem as cercas de seus casamentos. “Os maridos dificilmente descobrem”. Mulheres quando se juntam... O Dr. Oswaldo acredita que existem mais mulheres que se relacionam com outras mulheres do que homens que se relacionam com outros homens. E tenta encontrar uma razão para isso: “Talvez porque a cultura permita uma maior aproximação afetiva e sexual entre elas do que entre os homens”. É bem verdade que ninguém olha torto quando duas mulheres andam de mãos dadas no meio da rua. Já os homens... É aí que entra, na discussão, o antropólogo Mauro Cherobim, da Unesp e do Centro de Estudos e Pesquisas em Comportamentos e Sexualidade: “Isso deve ser visto de duas maneiras. A primeira delas é que essas relações extraconjugais se tornaram mais visíveis porque as mulheres deixaram de esconder esse comportamento sob mil chaves como faziam antigamente, pois o controle dos homens sobre elas diminuiu”, teoriza. O segundo seria o fato da mulher estar ingressando cada vez em maior número no mundo público: “A literatura e os dados de pesquisa mostram que esses relacionamentos extraconjugais devem-se ao aumento de informação e relacionamentos sociais mais amplos. E mais: isso sempre houve, tanto com mulheres como com homens. Apenas estamos sabendo mais”, arrisca. Cherobim se detém um pouco mais sobre as mulheres. Diz que, em São Paulo, por exemplo, existem cerca de 500 mil mulheres a mais que os homens. “Pegue esse número e relacione com a expectativa de vida menor do homem e a tradição deles casarem com mulheres mais novas. O que tem de cinqüentonas sem companheiros não está escrito...” Há salvação para o casamento? O Dr. Arnaldo Risman afirma que o número de casos de pessoas que lavam uma vida dupla com outras do mesmo sexo tende a aumentar. Isso porque elas estão sendo cada vez mais verdadeiras consigo mesmas. Diante desse prognóstico, o que se pode fazer depois que a bomba estourar? Em relação àquele que trai, Risman aconselha a refletir sobre os motivos que o levaram a isso. Depois, é aconselhável tentar descobrir suas expectativas futuras. E, claro, ser o mais verdadeiro possível com o parceiro. Crise conjugal instalada – é inevitável –, o especialista avisa que embora ainda se tente dar mais uma chance para o casamento, principalmente se há filhos, a confiança, e tudo o mais que vier com ela, acaba. Assim, não há muitas chances de manter o casamento. E se o casal procurar uma terapia? “Para quê?”, questiona o Dr. Oswaldo. “Não se trata de uma anormalidade psicológica tratável, exceto de trouxer desconforto. Então, sim, a terapia de casal deverá facilitar a escolha de novos caminhos para ambos, em conjunto ou em separado”. Mas ameniza a opinião do Dr. Arnaldo Risman: “Há chances desse casamento sobreviver. Pelo menos aparentemente muitos sobrevivem e encontram nestas atitudes a sua manutenção”.