Continue ouvindo bem
A população dos grandes centros urbanos tem, cada vez mais, consciência da gravidade da poluição sonora a que está sujeita. No Rio de Janeiro, por exemplo, de todas as queixas enviadas à Secretaria de Meio Ambiente, cerca de 60% estão relacionadas a agressões sonoras. Os ruídos encontrados no dia-a-dia são, de fato, responsáveis por lesões no aparelho auditivo e podem levar, em casos extremos, à surdez. Existe ainda um outro tipo de poluição que, por estar associado ao lazer, acaba passando despercebido. São os equipamentos de som utilizados para ouvir música no volume máximo, em uma má interpretação do dito “em alto e bom som”. Desde o walkman até os gigantescos amplificadores dos shows de música, vários aparelhos podem representar um risco para a audição. A moderação é sempre recomendada por especialistas, mas muitas vezes utilizar uma proteção é o ideal. Os shows de rock, por exemplo, transmitem cerca de 120 decibéis durante duas horas seguidas e a recomendação médica diz que, com esse nível de barulho, o máximo de tempo que uma pessoa deveria ficar exposta seria 3 minutos e 45 segundos. Não por acaso, todos saem dos espetáculos com a sensação de surdez e com um zumbido incômodo que pode demorar mais de 24 horas para desaparecer. Quanto maior a exposição, pior Segundo Jair de Carvalho e Castro, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Otorrinolaringologia, qualquer ruído acima dos 80 decibéis faz jus a uma proteção de ouvidos. Se, no entanto, a exposição não fizer parte da rotina, os malefícios podem ser sanados. “Chamamos esse tipo de agressão – muito alta durante períodos de tempo relativamente curtos – de exposição aguda. Esse é o caso dos grandes concertos de música”, explica. Os efeitos da exposição aguda são inteiramente revertidos depois de alguns dias, diz dr. Jair. A situação pode complicar quando existe o hábito de ouvir música em um alto volume. “O grande perigo para o ouvido são as longas exposições. Quem ouve música alta em fones de ouvido está mais sujeito a problemas de audição do que os que freqüentam shows uma vez por mês, por exemplo”, ilustra. O perigo é mais sério do que parece, e a maioria não percebe que está perdendo a audição. Segundo o médico, muitos jovens chegam ao consultório com dificuldades de ouvir o som da televisão, ou conversas ao telefone e, infelizmente, o efeito é irreversível, já que, uma vez lesadas, as células do ouvido não se regeneram. Se tentarmos traçar um escala crescente para a intensidade dos ruídos emitidos em diferentes situações do dia-a-dia, teríamos: liquidificador (90dB), ruído do trânsito (95dB), caminhão de lixo (100dB) e pistas de dança (110dB). Matéria de Dezembro de 2000