Crianças diabéticas exigem proteção
As estatísticas são pouco otimistas. A diabetes, hoje, cresce de forma significativa no mundo inteiro. Seu perfil também está mudando. Ela agora aparece com maior freqüência em crianças. “O diabetes do tipo 2, que só costuma atingir adultos com mais de 40 anos, é cada vez mais freqüente em crianças. E o tipo 1 está sendo diagnosticado cada vez mais cedo”, confirma o Dr. Rogério Vivaldi, que em seu consultório atende mais de cem crianças e adolescentes diabéticos. É uma tendência preocupante. E tem ligação direta com o tipo de vida que se leva neste final de século.
Maus hábitos alimentares, sedentarismo, obesidade e estresse têm sido uma combinação explosiva, com resultados desastrosos também para as crianças. Porque se há dez, 15 anos, o mais comum era que a doença só fosse detectada depois dos dez anos, hoje, a doença atinge crianças de faixas etárias cada vez mais baixas. Pacientes de cinco anos e até mesmo de seis meses chegam aos consultórios.
Mas se de um lado os números apontam uma tendência crescente, por outro, a dificuldade em lidar com o assunto não tem diminuído. Descobrir que o filho é diabético ainda é um baque para os pais. Impacto que não é menor nem mesmo para aqueles que também têm a doença. O diagnóstico sempre é uma surpresa. O que é explicável. Afinal, mesmo nestes casos, as chances de ter um filho diabético são bastante baixas: de 3% (mãe) a 6% (pai). Filhos diabéticos: um choque emocional para os pais Constatar a doença dos filhos é para os pais uma questão emocional difícil. De início, a pergunta que fica no ar é o que teria acontecido de errado, por que não geraram um filho perfeito? Depois prevalece o desejo de que o ele fique bem. É também o momento de querer saber tudo sobre a doença, reunir o maior número possível de informações. Para a criança, apesar das limitações, não chega a ser um bicho-de-sete-cabeças. Elas costumam aceitar a doença bem melhor que os pais. Para os adultos que convivem com uma criança diabética, é hora de aprender a lidar com um difícil equilíbrio: manter com firmeza as limitações e uma necessária rotina de cuidados, mas fazer isso sem rigidez ou ansiedade excessiva. “A criança não quer fazer dieta? Então é preciso mostrar a ela o que pode e o que não pode comer, oferecer substituições. Não quer fazer o teste de glicemia? O papel dos pais é fazer com que elas aprendam”, sugere o médico.
Enfatizar demais as limitações pode ser um tiro pela culatra. Muitas vezes, atitudes deste tipo provocam revolta, principalmente nos adolescentes, e fazem aumentar a zona de conflitos familiares — em muitos casos desnecessariamente. Porque há coisas negociáveis. Se uma criança diabética quer comer um sanduíche do McDonalds, e se está com a glicemia controlada, por que não?”, questiona o médico. Médicos também recomendam equilíbrio nos cuidados com os filhos Uma mãe rígida demais pode levar o filho a omitir pequenos deslizes. O que termina sendo bem mais prejudicial. Mentir sobre taxas de glicose ou sobre um doce comido às escondidas pode ter conseqüências mais sérias do que se imagina. “O médico pode ser levado a indicar dosagens de insulina diferentes das necessárias ao quadro real, por exemplo”, esclarece o Dr. Vivaldi...
Mas o desejo excessivo de proteção também atrapalha. Uma criança que ouve do pai que ela não tem nada, mas precisa fazer o teste glicêmico, certamente reagirá. Se não tem nada, então para que o teste? Medo das agulhadas, resistência a ter que manter o controle rigoroso das taxas de açúcar, tudo isso pode ser superado. Desde que se mostre que perdendo cinco minutos do dia, ela só tem a ganhar: fica bem, tem maior disposição para brincar e até pode ter permissão para comer alguns itens fora da dieta. Em outras palavras, tudo precisa ser bem explicado.
Em geral, o ponto de maior dificuldade na adesão ao tratamento é mesmo a alimentação. Apesar da facilidade e da variedade de produtos dietéticos que existem hoje no mercado, é preciso lidar com situações sempre difíceis para uma criança diabética: as festinhas na escola, as lanchonetes de fast food costumam avivar o desejo de comer sem restrições. Casos em que mais uma vez será preciso exercitar a negociação e o difícil exercício da firmeza com flexibilidade. Por outro lado, é mais fácil orientar nas crianças o hábito do esporte, da atividade física. O que a ajudará a prevenir obesidade, sempre um fator que aumenta o risco de complicações. “E ainda ajuda no aspecto da socialização”, diz o médico. Este, aliás, é uma questão importante. Muito freqüentemente a criança diabética é marginalizada, tratada de forma diferente. “O que mostra apenas falta de informação das pessoas. Porque o diabetes é uma doença crônica, mas que, bem controlada, permite a seus portadores levarem uma vida praticamente igual a de uma criança normal.