Curvatura exagerada do pênis exige tratamento
O pênis pode sofrer envergaduras para cima, para baixo ou para os lados provocadas por traumas repetitivos durante a relação sexual. Muitas vezes, essas “fraturas” são ignoradas – ou simplesmente acabam não sendo notadas – até o instante em que começam a causar desconforto (geralmente dores) no homem ou na mulher durante a relação sexual. Esse curvatura anormal, conhecida como doença de peyronie, afeta de 1% a 3% da população masculina entre os 40 e 50 anos. Dos 125 milhões de americanos, estima-se que 420 mil sofram deste mal. Outros sintomas são: o encurtamento e a diminuição da grossura do pênis, aparecimento de pequenos nódulos (caroços) abaixo da pele e, nas situações mais críticas, a falta de irrigação da glande fazendo com que ela fique completamente flácido. Dependendo do grau do desvio em relação à curvatura natural, as dores fortes e intensas no pênis impedem que o homem realize a penetração vaginal. Um desvio de 30 graus já caracteriza a doença. Nos casos mais graves, em que as curvaturas têm de 50 graus a 90 graus, a ereção pode ser comprometida. “Até os 30 graus ainda é possível ocorrer a penetração. Se o desvio for maior, a parceira também sentirá dores e a relação dificilmente ocorrerá”, explica o urologista Paulo Henrique Egydio, especialista no tratamento da doença de peyronie do Hospital das Clínicas de São Paulo (Brasil). A origem da doença Nem sempre o homem encontra facilidade para identificar uma lesão peniana que, em poucos meses, poderá ser diagnosticada como doença de peyronie. Às vezes, uma dor que incomoda por alguns dias, um edema imperceptível ou um pequeno inchaço podem ser o indício de um processo inflamatório que desencadeará a doença. Em geral, entre quinze e dezoito meses após o primeiro trauma o paciente começa a notar que o pênis está ficando mais curvo. Tudo começa com pequenas fraturas na albugínia, uma espécie de tubo localizado dentro do pênis que guarda os corpos cavernosos (pequenos vasos que se enchem de sangue e deixam o pênis ereto). “Os repetidos microtraumas na albugínia com o tempo se transformam em fibroses e entortam cada vez mais o pênis para o lado da lesão”, ensina o urologista Paulo Egydio. “Se a fratura é muito grave podemos compará-la à distenção de um nervo ou a quebra de um osso”, acrescenta. Quando o homem demora para procurar tratamento médico a região da dobra é calcificada e o pênis não volta mais ao estágio natural. A medicina ainda tenta encontrar fatores hereditários que possam estar ligados à doença de peyronie. Alguns homens que sofrem do mal de dupuytren acabam manifestando o problema. O mal de dupuytren é caracterizado pela falta de fibras elásticas no organismo e deformidades nas mãos e pés. A pele se mantém esticada e os dedos ficam em forma de garras. “É bastante provável que esses indivíduos também apresentem poucas fibras elásticas na região peniana. Mas a medicina ainda não afirma isso”, afirma o urologista. A doença de peyronie não deve ser confundida com o pênis curvo congênito, uma curvatura anormal corrigida ainda na infância por meio de intervenção cirúrgica. Por que a partir dos 40 anos? Muitos homens têm disfunções sexuais mínimas a partir dos 40 anos, quando tem ereções por menos tempo, de qualidade inferior e o intervalo entre as relações quase sempre aumenta. Nessa fase, os homens devem tomar certos cuidados para não fraturar o pênis e, conseqüentemente, desenvolver a doença de peyronie:Não forçar quando a penetração estiver dificultada pela posição. Os médicos sugerem que os casais adotem posições mais confortáveis tanto para o homem quanto para a mulher;Esperar o momento em que a vagina estiver bem umedecida para iniciar a penetração;Se a mulher estiver na posição ativa é importante ficar atenta para um movimento brusco que, eventualmente, possa provocar uma lesão séria. “Já tratei de homens que seguem estes manuais de posições sem nenhum critério médico e acabam desrespeitando a anatomia dos seus órgãos sexuais”, alerta Paulo Egydio. Tratamento à base de remédios ou cirurgia A primeira medida adotada pelo médico é avaliar o grau da curvatura do pênis. Dependendo da curvatura o especialista receita antiinflamatórios e injeções de corticóides. A vitamina E, que age como antioxidante e minimiza o processo inflamatório, também é recomendada. “Geralmente em poucas semanas ocorre a evolução espontânea e o pênis volta ao seu estado normal, sem a necessidade de evitar as relações sexuais”, declara o especialista. Os casos mais graves são resolvidos com intervenção cirúrgica. O paciente se interna no dia da operação, que dura aproximadamente três horas, e sai do hospital 24 horas depois. O médico realiza um corte em volta do pênis (próximo à bolsa escrotal) e puxa a pele em direção à glande. Por meio de uma técnica conhecida como blicatura o urologista faz uma “prega” no lado da albugínia que não foi afetado. Dessa forma, ele “força” o tubo a voltar ao seu estágio anterior. O maior inconveniente da blicatura é o encurtamento do pênis, que pode perder até dois centímetros de comprimento. O homem volta a manter relações sexuais após seis semanas. A colocação de próteses penianas é um recurso que pode ser utilizado como complemento da blicatura. Brasileiro desenvolve nova técnica O urologista Paulo Henrique Egydio criou um novo tipo de cirurgia. Em vez de fazer uma prega para deixar o pênis com a curvatura normal, o especialista “estica” a albugínia e coloca um enxerto no local da lesão. O material usado para o enxerto é o pericárdio bovino, uma membrana resistente e fibrosa que envolve o coração do boi. A maior vantagem para o paciente é que não ocorre a redução do tamanho do pênis. A nova técnica vem sendo testada há um ano e meio no Brasil. De acordo com o criador da cirurgia, 27 pacientes submetidos ao tratamento apresentaram resultados satisfatórios. O médico brasileiro participou recentemente do Congresso da Sociedade Americana de Andrologia, em Boston, e voltou para o país bastante otimista. “Eles aprovaram a cirurgia”, diz. Matéria de abril de 2000