De olho nos quadris do bebê

10 Ago

Logo após o nascimento do bebê, ainda na sala de parto, os olhos atentos do papai e da mamãe não desgrudam do novo membro da família. Nesse momento, ele enfrenta seu primeiro desafio: o exame realizado pelo pediatra que assistiu o parto. Além das funções vitais e da eventual existência de um defeito físico, o especialista irá verificar se a cabeça do fêmur tem um encaixe perfeito sobre os ossos da bacia. E certificar-se de que não haja qualquer suspeita de luxação congênita nos quadris, doença diagnosticada em um a cada mil nascimentos no Brasil.

Se não for tratada, ela pode levar a criança a desenvolver uma perna maior do que a outra e a andar de maneira gingada, mancando. Na fase adulta, entre 20 e 30 anos, ela poderá sofrer dores locais e apresentar desgaste da cabeça do fêmur e do osso do quadril no local da articulação. Por isso, o neonatologista catarinense Ronaldo Della Giustina lembra que a preocupação do pediatra deve se estender da maternidade até os primeiros exames no consultório. Os movimentos realizados nas perninhas do bebê – manobras de Barlow e de Ortolani – podem indicar se os quadris estão... ...normais. ...fora do lugar (luxação). ...no lugar, mas saem durante os movimentos (subluxação). No caso de problema, o profissional costuma sentir um clique, sinal de que a criança deve ser encaminhada a um ortopedista pediátrico.

O que está ao alcance da ortopedia

Sob os cuidados de um profissional especializado, o bebê é submetido a um ultra-som (o raio-X não detecta o defeito, já que os tecidos são ainda muito cartilaginosos) para confirmar as suspeitas do pediatra. O Dr. Adelcio César Bueno, membro da Sociedade Brasileira de Ortopedia Pediátrica, explica que, no caso de uma luxação, o bebê deverá usar um aparelho chamado Pavlik, feito de alumínio e couro. Ele mantém os quadris em uma posição reduzida, ou seja, as perninhas ficam abertas, como as de uma rã. O período de uso varia conforme a avaliação do médico e a gravidade do caso, e pode durar de três a sete meses.

Há bebês, considerados em perfeitas condições de saúde durante os primeiros exames, que chegam ao consultório do médico depois de um ou dois anos com a luxação. “Se a doença for diagnosticada mais tarde, quando a criança já estiver aprendendo a andar, o tratamento será diferente: é utilizado gesso ou realizada uma cirurgia”, explica o Dr. Bueno. “É importante lembrar que, por melhor que seja o resultado da cirurgia, a vida adulta deste paciente não será normal. As dores locais são inevitáveis”, alerta o Dr. Pedro Henrique Mendes, que também é ortopedista pediátrico. Segundo afirma, quanto mais cedo for diagnosticada a luxação, de preferência nos dois primeiros meses de vida, maiores são as chances de reverter o problema.

Em determinadas situações, o quadril subluxado poderá até melhorar com o tempo, sem nenhum tratamento. “O ortopedista deverá ter sensibilidade para saber se começa logo o tratamento ou se espera. Nesse caso, ele deverá acompanhar o paciente muito de perto e, se ele não melhorar em uma semana, mais ou menos, deverá agir.” Como os pais podem desconfiar? O Dr. Pedro Henrique orienta os pais a ficarem atentos durante a troca de fraldas dos bebês. A dificuldade em abrir suas perninhas pode ser um indício da doença. Durante os primeiros passinhos, ela também poderá ser notada se o pequeno começar a mancar ou apresentar uma perninha maior do que a outra. As chances de o problema aparecer são maiores no bebê da primeira gravidez, principalmente nas menininhas e naqueles que nasceram de parto pélvico (quando o feto fica sentado no útero). A predisposição genética também conta.