Diga-me o que fazes e te direi como amas (segunda parte)

10 Ago

Será realmente que amor e profissão se ajustam a um modelo? “Supõe-se que a personalidade se expressa como um todo, não só nas atividades profissionais mas também na escolha do(a) companheiro(a) e na vida sexual”, explica a psicóloga e sexóloga Virgínia Verdier. Segundo Virgínia, embora não se possa definir bem as fronteiras porque as variáveis que delimitam um território tão complexo como o sexual são diversas – ideologia, história, edicação e inserção social – algumas coordenadas se repetem de forma sistemática. “Os homens do mundo da informática costumam ter dificuldades de relacionamente e comunicação com as pessoas, por isso depositam boa parte de sua energia sexual no computador, com o qual estabelece uma série de diálogos”, explica. Os que baseiam sua vida profissional nos números – contadores, matemáticos, engenheiros – em geral são esquemáticos e rígidos, e respondem com uma mentalidade tão exata como a ciência com que trabalham. “Não é fácil que entrem em contato com suas próprias emoções e muito menos que as expressem. Daí que sua sexualidade também se baseie em fórmulas rígidas”, diz Virgínia. No topo da lista estão os artistas, especialistas na arte de recriar e reinventar cada centímetro da realidade. “Os artistas se permitem romper os limites do conhecido e descobrir formas diferentes de prazer”. Sem ir muito longe, homens que se dedicam às ciências humanas também são capazes de conquistar liberdades sexuais. São aqueles que sabem integrar saber e prazer, ao contrário dos intelectuais puros, entre os quais predomina o pensamento acima dos amores e paixões. “Se o discurso é apenas teórico, o que fica é o que acontece da cabeça para cima, vivendo um sexo sem vida, sem emoções e sem doação” explica a psicóloga. O sexo da política Outra dissociação característica ocorreria entre os políticos. “Ali se joga com a dupla moral. Como estão dentro de uma elite em que tudo vale, podem se dar a permissão e prerrogativas, sempre que se tratar de uma amante, mas nunca da esposa”, sustena Verdier e também distingue dois tipos: os autoritários e aqueles que têm autoridadade, simplesmente. O autoritarismo os faz sentir donos do poder e da vida do outro, fato que curiosamente os iguala com os homens de menor instrução, que fazem do machismo um culto. “Entendem a ternura com uma fraqueza e a sexualidade passa a ser regida por uma urgencia biológica”. Claro que alguns políticos se submetem às leis do eleitorado e então assimilam a personalidade sedutora dos vendedores profissionais, que têm que criar a necessidade pelo produto que oferecem e se especializam no exercício de manipular o desejo dos potenciais clientes. ”Parecem como os grandes amantes latinos porque têm um bom manejo das técnicas da sedução e do jogo sexual, mas correm o risco de criar cenas vazias de emoção”. Infelizmente, nenhum homem parece reunir todas as qualidades. Para criar um modelo que combine uma dose de paixão, sedução, técnica, criatividade, saber e doação seria necessário juntar qualidades de muitos homens, o que daria origem a um Frankenstein. Matéria de março de 2001