Drogas na mira
RIO DE JANEIRO - O estudo dos genes e o mapeamento cerebral, feito através de scanners altamente sofisticados, podem ser as novas armas contra a dependência química. Em laboratórios americanos, cada vez mais se investe nesses estudos para entender por que alguém se torna viciado rapidamente e outros consomem drogas durante anos, mas não ficam dependentes. Baseados nos resultados, os cientistas querem desenvolver novos tratamentos, remédios capazes de inibir os efeitos devastadores que o uso de cocaína, por exemplo, provoca no cérebro.
Um dos centros de pesquisa mais avançados no assunto é o Treatment Research Center, da Universidade da Pensilvânia. Lá, os cientistas fizeram a experiência de gravar um vídeo, no qual aparece um dependente químico consumindo crack e outras drogas. O vídeo é mostrado a pessoas consideradas viciadas. As imagens por si só são capazes de desencadear reações cerebrais incríveis: aceleração das batidas cardíacas, zumbido no ouvido e alterações bioquímicas num ponto profundo do órgão. Analisando essas reações, os pesquisadores descobriram como se comporta uma área específica do cérebro chamada amígdala.
Localizada no sistema límbico, que rege as emoções, a amígdala ajuda o ser humano a relembrar detalhes associados a experiências prazerosas. Ao assistir ao vídeo, os voluntários tinham respostas bioquímicas bem claras. Droga ativa centro de recompensa Nas pesquisas da Universidade da Pensilvânia, os cientistas estão testando um remédio experimental que, no futuro, poderá controlar a chamada fissura, desejo incontrolável de consumir a droga. Hoje, os voluntários tomam uma dose do medicamento antes de assistir ao vídeo. Resultado: as imagens vistas não geram uma vontade assim tão forte de usar a droga. Segundo a psiquiatra brasileira Magda Vaissman, coordenadora do Programa de Apoio ao Trabalhador Alcoolista da Divisão de Saúde do Trabalhador da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), remédios usados no combate à dependência química devem atuar sobre o centro de recompensa, localizado no sistema límbico. “Apenas ver a imagem de alguém consumindo drogas é suficiente para ativar o centro de recompensa. A pessoa revive o prazer já experimentado com aquela cena e tem o forte desejo de sentir aquilo de novo. Um remédio que atue nessa região será capaz de inibir o desejo de consumo da droga”, diz drª Magda.
Genes podem levar à dependência química
Outra tendência da pesquisa atual é acreditar que os genes podem tornar uma pessoa mais suscetível à dependência química. Estudos com gêmeos já mostraram que os gêmeos idênticos têm mais chance de sofrerem do mesmo problema em relação às drogas do que os fraternais, que têm códigos genéticos diferentes. Segundo o pesquisador Ming Tsuang, professor de psiquiatra da Harvard Medical School, as pessoas herdam não apenas uma vulnerabilidade geral ao abuso de drogas, mas também uma suscetibilidade a drogas específicas. “Nosso grupo de estudo está interessado em descobrir o gene ligado ao vício em heroína. Se descobrirmos qual é esse gene e o que ele produz, poderemos evitar que as pessoas se tornem dependentes da droga”, prevê o americano.
Os cientistas também investem no estudo da ligação entre os neurotransmissores cerebrais e a dependência química. Um dos mais envolvidos no problema é a dopamina, associado ao prazer, à recompensa e à motivação. Estudos recentes mostraram que os dependentes químicos tendem a ter uma deficiência num receptor específico da dopamina, o DR2. Um mapa das drogas no cérebro A drª Magda diz que os efeitos das drogas no cérebro dependem do tipo de substância usada. De acordo com a droga, pode ocorrer um aumento do fluxo sangüíneo no órgão ou uma atrofia do córtex. Eis alguns dos principais efeitos: Drogas estimulantes: Cocaína, ecstasy e anfetaminas estão neste grupo. Elas provocam uma vasoconstrição do cérebro, ou seja, ocorre uma redução no fluxo sangüíneo. O resultado é que o órgão deixa de receber oxigênio suficiente para o seu bom funcionamento. O cérebro é mal alimentado, aumentando o risco de isquemias. Álcool: É uma droga depressora do sistema nervoso central. Atrofia o córtex cerebral, parte mais desenvolvida e importante do cérebro. As conseqüências podem ser insignificantes, dependendo do grau da dependência, mas também podem levar à chamada demência alcoólica. Maconha: Está incluída, junto com o LSD e os ácidos, no grupo das drogas perturbadoras do sistema nervoso central. Até hoje, os cientistas ainda não obtiveram provas contundentes de seus efeitos nocivos no cérebro.