Entrando em Alfa

10 Ago

Turma barra pesada em prisões americanas, executivos de grandes empresas e hipertensos. O que estes grupos têm em comum? Eles meditam. E se dão muito bem com isso. Afinal, como as pesquisas científicas têm comprovado, a meditação transcendental é capaz de fazer baixar a pressão alta, é um dos mais eficientes meios de controlar o estresse e tem feito muito sujeito violento relaxar e expandir a mente em outras direções, bem além da agressividade. Os estudos confirmam aquilo que a prática vem demostrando há bastante tempo. Quando se está meditando, muita coisa muda no organismo humano. A bioquímica cerebral ganha o estímulo de uma maior produção de endorfinas. O metabolismo diminui, levando o corpo a um repouso profundo e propiciando a liberação de tensões e do estresse cotidiano. Relaxam-se as couraças musculares, a freqüência respiratória e os batimentos cardíacos diminuem. E vista num eletroencefalograma, a atividade cerebral se altera. Passa do estágio Beta, que é o de vigília, para o Alfa. É quando as ondas cerebrais têm amplitude maior e freqüência menor. Não por acaso, o cardiologista Dean Ornish, médico do presidente americano Bill Clinton, e o papa do jogging Kenneth Cooper aconselham seus pacientes a meditar. Abaixo a pressão alta e a depressão Tudo isso só mostra que a prática passa longe do esoterismo ou de qualquer misticismo que lhe possam atribuir. Muito pelo contrário. A mente tranqüilizada pela meditação torna-se mais concentrada e, portanto, consegue focar a atenção em determinado objeto. “O que, em outras palavras, significa que se torna uma mente mais eficiente e mais preparada para os desafios”, diz o clínico e acupunturista Aderson Moreira Rocha, presidente da Associação Brasileira de Ayurveda, ABRA. Interessado pelo cultura oriental desde a juventude, ele comprovou em si mesmo as melhoras que a prática traz. Entusiasmado, passou a recomendá-la a seus pacientes. “É um ótimo recurso contra a insônia, já que melhora a qualidade do sono. O que é particularmente indicado para pessoas deprimidas, ansiosas ou idosas, que costumam acordar muito durante a noite”, afirma. Boa parte das pesquisas médicas, no entanto, tem se voltado para o controle da hipertensão. E aí também os resultados se mostram bastante satisfatórios. “Os estudos têm provado que os casos de hipertensão de leve a moderada chegam a ficar inteiramente controlados. Associando-se meditação, dieta e exercícios, consegue-se até mesmo prescindir de medicamentos. Obviamente sob acompanhamento médico”, diz. Exatamente o que a American Heart Association concluiu depois de acompanhar durante três meses um grupo de pessoas idosas e de meia-idade, que usaram a meditação para controlar não apenas a pressão arterial, como outros fatores de risco. Acrescente-se ainda que alguns participantes do estudo anteriormente vinham tomando remédios sem conseguir baixar a pressão nem mantê-la estável. O que foi possível com a prática constante de meditação. Silêncio: presos meditando! Igualmente bem-sucedidas foram as experiências feitas em prisões da Califórnia, Massachusetts, Minnesota, Novo México e Vermont. Vinte minutos diários foram suficientes para fazer diminuir, e muito, problemas disciplinares, brigas e mesmo o estresse de agentes penitenciários. Nos períodos em que o programa foi mantido na Califórnia, por exemplo, os casos de reincidência criminal, antes altos, baixaram em 35%. Na California’ s Folsom Prison, um dos participantes do programa chegou a estranhar ver 40 dos sujeitos mais perigosos da Máfia mexicana, dos Hell’s Angels e da Irmandade Ariana — gangues inimigas na prisão — sentados numa mesma sala, desarmados e de olhos fechados. Nada que surpreenda o Dr. Aderson Moreira. Afinal, durante a meditação, baixam-se os níveis de adrenalina e cortisol, hormônios ligados ao estresse. Relaxadas e tranqüilas, é natural que as pessoas tornem-se menos propensas à violência. “A mente costuma ser dispersa, como um macaco, pulando de galho em galho. O fator limitante dos sentidos impede que ela vá para estados mais profundos de consciência. No entanto, se usarmos um mantra como veículo, por exemplo, conseguimos fazer com que, em vez de se voltar para fora, como costumamos fazer, nossa mente se volte para dentro de si mesma. É onde ela encontra níveis de bem-estar, felicidade e harmonia”, explica o médico. Ou seja — e só para repetir mais um ensinamento oriental — tudo o que buscamos é o que está dentro de nós, nossa própria essência. Uma abordagem eficaz para se conseguir chegar a este estado é prestar atenção à respiração. ”Há uma íntima relação entre respiração e tensão. Acelerada, ela mostra nossa agitação. Lenta, é sinal de repouso”, esclarece. A partir daí, pode-se usar um mantra, aquela palavra indiana, cujo som é repetido, e que costuma ser uma chave para o relaxamento. A instrutora Adriana Maranhão, com formação pela Sociedade Internacional de Meditação, diz que fazer isso é mais fácil do que se pensa. “E os 20 minutos de meditação equivalem a seis horas de sono profundo”, compara. Longe do cigarro, do álcool e das drogas O que significa que, depois de meditar, a disposição aumenta, o mau humor e o estresse costumam desaparecer, e os praticantes se sentem com maior energia para as atividades cotidianas. E o quer é melhor, com maior discernimento para as situações que vivenciam. Ao fim do curso de seis dias, a técnica passa a ser mais automática, feita sem qualquer esforço. “Já nos dois primeiros dias, se sentem os benefícios: deprimidos, ou aqueles que estejam passando por processos difíceis, como um final de casamento, tornam-se mais bem-dispostos, mais animados; diminui-se a necessidade do álcool e do cigarro. A meditação pode até ser um bom auxiliar contra o uso de drogas”, enumera. Recurso que, por sinal, tem sido ótimo com adolescentes, que passam a conhecer um outro “barato”, costumam sentir-se mais confiantes, mais centrados e menos vulneráveis. Adriana tem visto resultados bastante satisfatórios com jovens tímidos. “Embora com a meditação a pessoa se volte para si mesma, a sensação de bem-estar que ela tem depois a fortalece emocionalmente, com maior auto-estima. O que ajuda a discernir os fatos e a ter maior disposição para exteriorizar-se, a buscar o mundo lá fora. Ela enfatiza, porém, que para obter-se bons resultados, é preciso adotar uma prática regular. “Cada período de meditação é de 20 minutos, que devem ser repetidos duas vezes por dia. O ideal é pela manhã, logo depois de acordar, no final da tarde ou antes de dormir”, ensina a instrutora, habituada a receber executivos estressados e hipertensos interessados em aprender a técnica. Mesmo os que têm dificuldade em concentrar-se podem tentar. Basta sentar-se numa cadeira, confortavelmente, mantendo a coluna ereta. “Isto é necessário porque passam pela coluna vários canais energéticos. E é preciso que estes canais estejam livres para não interromper o fluxo de energia”, explica o Dr. Aderson. Crianças meditam brincando Segundo Adriana, até mesmo crianças podem utilizar o método, indicado para as que são hiperativas, têm enurese noturna ou dificuldade de sono. Nestes casos, elas aprendem técnicas especiais em que toda a atividade é uma brincadeira. O médico acrescenta ainda que pacientes com câncer podem melhorar seu estado emocional e com isso obter melhoras também em seu estado físico geral. “Há estudos que visam desenvolver as condições de pessoas com problemas neurológicos através da meditação. Afinal, já se sabe que a bioquímica do sistema nervoso pode ser alterada desta forma”, prossegue. Em sua experiência, somente pacientes irrequietos a ponto de não conseguirem sentar e se aquietarem é que não puderam meditar. A estes foi indicado o relaxamento da prática da yoga. De maneira geral, porém, toda e qualquer pessoa pode meditar. Sem qualquer contra-indicação, o único pré-requisito é o desejo de ficar bem. Basta sentar-se, mergulhar para dentro de si mesmo e desfrutar de tudo de bom que se pode obter. E que está dentro de nós. É só querer.