Envelhecimento e excesso de peso causam apnéia
Quem sofre de apnéia ronca. Mas nem todo mundo que ronca tem apnéia. E isso se explica. A apnéia é um distúrbio do sono caracterizado por diversas paradas da respiração ao longo da noite. Elas ocorrem devido ao bloqueio da passagem do ar pelas vias respiratórias. “A garganta fecha e a pessoa fica sem respirar por um instante”, explica a pneumologista Lia Rita Bittencourt, coordenadora do Instituto do Sono da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Brasil. O estreitamento da garganta (faringe) leva, normalmente, ao ronco. Mas nem sempre o fechamento da estrutura é total, como acontece na apnéia. “Às vezes, o ronco é somente uma vibração produzida pela garganta sem que ela esteja totalmente bloqueada”, diz a especialista. Depressão e falhas de memória A apnéia atinge de 4% a 9% da população mundial (a insônia, um dos distúrbios do sono mais prevalentes, chega a 35%) e pode ter como conseqüências sonolência durante o dia, depressão, irritabilidade, disfunção sexual e dificuldades de aprendizado e memória. Pode também causar arritmia cardíaca, derrame e pressão alta. A principal causa é o excesso de peso. E pode ser agravada por ingestão de bebidas alcoólicas perto da hora de dormir (relaxa a musculatura do pescoço e tende a levar ao bloqueio do ar) e por cigarro (irrita a garganta). Além disso, há um importante componente genético: pessoas que nascem com o queixo “para dentro” (retrognatia), com malformação da face ou com a amígdala grande têm maior tendência a desenvolver o problema, que é mais comum a partir dos 40 anos. “O envelhecimento faz a musculatura da faringe ficar mais fraca”, afirma Lia. Crianças que roncam ou não conseguem respirar corretamente pelo nariz podem sofrer de apnéia conforme crescem e, por isso, precisam ser acompanhadas por um médico. Aparelho portátil é o melhor recurso O tratamento mais usado para corrigir o distúrbio chama-se CPAP (sigla em inglês para Continuos Positive Airway Pressure). Trata-se de um aparelho portátil – do tamanho de um telefone – acoplado a uma máscara que fornece um fluxo contínuo de ar sob pressão durante o período em que o paciente dorme. Dilata a faringe, permitindo que o ar chegue normalmente até os pulmões. Como a máscara é feita de material extremamente flexível, o usuário consegue dormir em qualquer posição. “O equipamento pode ser usado até que o paciente perca o excesso de peso e respire sem o seu auxílio”, diz Lia. O índice de sucesso do CPAP é de quase 100%. Isso significa que a pessoa praticamente deixa de sofrer paradas respiratórias que, em alguns casos, podem chegar a cem vezes em apenas uma hora. Casos graves exigem traqueostomia Quando o estado do paciente é muito grave (cerca de 11% dos portadores de apnéia sofrem também de complicações cardíacas e pulmonares) ou a pessoa não se adapta à máscara do CPAP, usa-se, em caráter de emergência, a traqueostomia, abertura feita diretamente na traquéia (estrutura que liga a faringe aos pulmões) que permite a respiração por meio de uma cânula. O inconveniente é que essa técnica é muito agressiva e os pacientes têm resistência a aceitá-la. “É muito incômoda”, diz Lia. Esses casos, no entanto, podem ser amenizados com outro tipo de traqueostomia que está sendo desenvolvida nos Estados Unidos. A abertura é de apenas 2 milímetros e um chip monitora a entrada do ar. Cirurgias corretivas (que mexem na estrutura da boca) são menos utilizadas, mas fazem parte também dos recursos disponíveis para quem sofre de apnéia. Em casos leves (menos de quinze paradas respiratórias por hora), recomenda-se o uso de aparelhos ortodônticos que mexem com a estrutura do maxilar e corrigem a posição da língua em relação à faringe. Matéria de junho de 2000