Filhos: será melhor não tê-los?
Um bebê chega e é motivo de felicidade, amor e união entre o casal. Infelizmente, nem sempre esta situação condiz com a realidade. A notícia do nascimento de uma criança pode fortalecer uma relação, mas também pode aflorar conflitos e servir como pretexto para a separação. Principalmente para os que não aprenderam a dividir o espaço e a atenção.
Assim, as histórias de que filho sustenta uma relação ou ainda de que uma gravidez tem o poder de resgatar um casamento já desgastado não passam de balela. Até porque, nos dois casos, a criança acaba sendo um mero joguete nas mãos dos pais. Os homens levam mais tempo que as mulheres para assumir a nova condição Assim, não pense que basta chegar com o resultado do exame de gravidez positivo para o casal incorporar a idéia da paternidade e maternidade. É bom saber que nem tudo são flores nesse caminho. Enquanto as mulheres são acostumadas desde a infância a cuidar das bonecas e da casinha e, desta forma, culturalmente, incorporam a idéia de ser mãe ao cotidiano, os homens não. Para eles, esse é um processo mais longo. Historicamente, o sexo masculino foi criado para a caça e para prover o sustento do rebento, não para cuidar dele diretamente. Por isso, o homem custa mais a digerir a idéia de ser pai.
O processo da paternidade se dá por etapas de aceitação e adaptação. Afinal, por mais participativo que seja, há situações, como a amamentação, em que ele só pode ser um mero coadjuvante, mesmo. Cultura faz a mulher demarcar o território O grande problema é que algumas mulheres se aproveitam desta questão cultural. E acabam puxando para elas todas as responsabilidades referentes diretamente ao filho, deixando o homem de lado. E a justificativa é sempre a mesma, de que a mulher é educada para cuidar de uma criança e sabe bem desempenhar o papel materno, ao contrário do homem em relação ao paterno. Uma situação que pode provocar no homem ciúmes não só da mulher, mas também da criança. Antes, ele contava com a atenção total da companheira, espaço perdido com a chegada do pequeno.
E nem sempre eles aceitam bem essa perda de espaço. Por isso, o ideal, até pela dificuldade de o homem assumir o papel de pai, é compartilhar as funções, possibilitando a ele espaço também para participar. Deixar que o pai dê banho, troque a fralda, dê mamadeira ou a comidinha, até mesmo levar a criança ao pediatra já adianta e muito. E sem críticas. Sinal dos tempos, hoje em dia os novos pais têm se mostrado diferentes e mais participativos. “Hoje a gente vê muitos homens cuidando da criança com todo amor e desvelo. Demonstrando o maior jeito com os filhos”, diz a psicóloga Vera Lúcia Vaccari. Homem e mulher não podem se esquecer de suas posições ao assumirem a paternidade Vera diz que o casal tem de pensar na criança como uma nova pessoa, carente de educação, formação, carinho, amor. Um ser que esse casal tem de educar da melhor forma possível. “Isso exige muito amadurecimento de ambos”, diz. O que implica em abrir mão de algumas individualidades ou de coisas que são importantes para o casal em prol do bebê.
É importante ainda saber que existe uma hora para cuidar do pequeno, mas também de olhar com carinho para a relação. Eles não podem se esquecer nunca que, antes de serem pais, são homem e mulher e, como tal, têm suas necessidades. “Não é porque viraram pais que deixaram de ser pessoas com desejos, fantasias e projetos”. Filho não deveria unir e nem separar um casal Para Joaquim Zailton Bueno Motta, sexólogo e professor do departamento de Psiquiatria da PUC de Campinas, o casal maduro emocionalmente não mistura os papéis. Ou seja, ambos sabem ser pais e também homens e mulheres. E entendem que não podem usar os filhos para atender às suas conveniências. Mas, claro, isso não é uma regra geral. Na prática, o que mais se vê, segundo Motta, são casais que apelam para os filhos quando convém e ainda para os fatos que os envolvem. Motta dá como exemplo quando um dos dois - o homem ou a mulher - não quer manter relações sexuais. “Aí é porque o filho está com tosse e assim por diante. Se quer permanecer no casamento é só porque não pode abandonar o pequeno”, diz.
A psicóloga Vera acredita que nesses casos, a relação já está bem desgastada ou mesmo acabou, mas não há a motivação suficiente para que nenhum dos dois assuma o fim. E, quando assumem e resolvem se separar, alguns casais têm novos problemas em relação aos filhos. São pessoas que não sabem separar os papéis, ou seja, eles podem se separar como casal e continuar como família, de modo que a criança tenha contato com ambos. E que os próprios pais, segundo Motta, se reúnam para conversar sobre os filhos semanalmente. Uma questão, com certeza, para casais bem resolvidos emocionalmente.