Mulheres que amam mulheres

10 Ago

Muito se tem falado sobre o homossexualismo masculino, mas pouco sobre o feminino. Por quê? Para os especialistas, não há dúvida: hoje as lésbicas são muito mais discriminadas. E nossa sociedade parece simplesmente ignorar a existência delas. Fruto de uma cultura que sempre negou a sexualidade feminina. E continua negando. Para o ginecologista e sexólogo Théo Lerner, por muito tempo as mulheres não tiveram sequer o direito de expressar seus desejos e vontades. Nem nos relacionamentos heterossexuais e muito menos nos homossexuais. Cabia ao homem sempre tomar as iniciativas e manifestar o desejo. Resultado de séculos e mais séculos de cultura machista. Distinção no tratamento das homossexualidades Mas hoje a sociedade até assume que existem alguns desvios de comportamento. O que não significa, claro, uma aceitação. No caso da homossexualidade masculina, por exemplo, o psiquiatra Ronaldo Pamplona, autor do livro Os 11 sexos, diz que há mais curiosidade e interesse em torno do homossexual afemininado, o transexual e o travesti. Além disso, a Aids caiu como uma bomba, porque logo que surgiu acreditava-se que apenas os gays seriam atingidos. Então, segundo Pamplona, eles não tiveram como negar a preferência sexual. Vários filmes abordando o tema foram feitos, como o americano Filadélfia, com Tom Hanks. Com isso, de alguma forma, a sociedade acabou se acostumando a ouvir falar nas questões do homossexualismo masculino. “Criou-se um certo clima de compaixão social e os homossexuais começaram a perceber que não era tão ruim assim se expor”, diz o médico. Já o mesmo não aconteceu com as lésbicas. Ironia de uma negaçãoLuta interna grande Mas negar a existência da homossexualidade feminina é besteira. Ela sempre existiu e vai continuar existindo. “O importante é situar as relações heterossexuais e homossexuais como partes da condição humana. Uma não é melhor do que a outra. Há pares homossexuais felizes, da mesma forma que há outros nos quais a dominação parece repetir a desigualdade existente em muitos casais heteros”, diz Vera. O escritor inglês Oscar Wilde definiu a homossexualidade masculina como "o amor que não ousa dizer seu nome". Uma utopia, sem dúvida, mas que ajudaria muito no processo de aceitação das pessoas em relação a suas preferências sexuais. Para Junia Dias, delegada regional da Sociedade Brasileira de Estudos em Sexualidade Humana, a orientação sexual não é uma opção consciente. Assim, numa sociedade em que para ter seus direitos e até a sua saúde preservados, os homossexuais precisam de leis. Aceitar-se homossexual é um processo de luta interna terrível. “A nossa sociedade não aceita nada do que considera socialmente fora do normal, entendendo-se como normal a orientação sexual de maior quantidade”, explica Junia. Culturalmente, a maternidade nasce com o sexo feminino. Como se a lei social impusesse que a mulher crescesse e concebesse. Assim, segundo Junia Dias, a reprodução é um desejo que a maiora das mulheres nutre, inclusive as homossexuais. “Atendo a vários casais de homossexuais femininas e percebo que esse desejo está muito presente, conscientemente ou não”. Ela conta o exemplo de uma mulher, cuja amante é casada, que pensou estar grávida. A mulher estava com a menstruação atrasada. Mas, quando o exame de sangue específico de gravidez mostrou o resultado negativo, houve uma grande decepção. “Ela queria muito engravidar”, diz Junia. Riscos de DSTs também existem Da mesma forma que pouco se fala sobre a homossexualidade feminina, ao mesmo tempo quase nunca se comenta também as possibilidades de as lésbicas se contaminarem com algum tipo de doença sexualmente transmissível. Mas esta é uma chance presente, sim. Segundo Lerner, a possibilidade de infecção numa relação entre mulheres é bem menor do que numa relação heterossexual ou homossexual masculina. Mas os riscos existem e as medidas preventivas têm de ser usadas entre as parceiras com o mesmo cuidado, especialmente no sexo oral. Termo vem de Lesbos O termo lésbica vem da ilha de Lesbos, no mar Egeu. Lá, por volta do século um antes de Cristo, a poetisa grega Safo foi aprisionada. Seu crime foi escrever poemas exaltando a paixão e o amor. “Ela podia nem ser homossexual, mas, talvez, o tipo de trabalho que fazia a diferenciasse das outras mulheres da época e causasse confusão”, explica a psicóloga Vera Lúcia Vaccari.