Quando os pais tornam os filhos ansiosos
Crianças que são acompanhadas pelos pais enquanto brincam têm sua criatividade reduzida. Este é o resultado de um estudo feito por especialistas americanos e apresentado recentemente na Sociedade Americana de Psicologia em Miami. De acordo com Dale Grubb, um dos autores da pesquisa, as crianças se sentem “vigiadas” e intimidadas com a presença dos pais. Por conta disso, ficam ansiosas para corresponder às expectativas dos adultos e acabam desviando a atenção da brincadeira, o que as impede de descobrir novos estímulos. O estudo recebe o aval de especialistas brasileiros. “Quando a mãe ou o pai interfere demais na brincadeira, os filhos acabam se tornando ‘robozinhos’ que fazem o que se espera deles”, diz Sonia Baldini, psiquiatra infantil do Hospital do Servidor Público do Estado de São Paulo. Brinquedos simples são os melhores A melhor forma de ajudar os pequenos é oferecer objetos para que eles próprios inventem uma brincadeira. E isso deve ser feito desde cedo. Sabe-se que a fase que vai do zero aos três anos é aquela em que a criança mais aprende devido ao desenvolvimento das conexões nervosas no cérebro. Carrinhos movidos a controle remoto ou bonecas que falam podem até ganhar no quesito beleza, mas no momento de estimular os filhos o que vale são os brinquedos mais simples. “Ao explicar como funciona um determinado carrinho, os pais podam a criatividade da criança”, afirma Sonia. Para menores de um ano a psiquiatra recomenda almofadas com tecidos diversos para que comecem a experimentar o tato. Aos maiores, cubos e jogos de armar são ideais. O importante é não dar nada elaborado. “A criança deve explorar os materiais, colocar um pouco de si na brincadeira”, diz. Construção da individualidade Deixar os filhos livres para se divertir ajuda no desenvolvimento emocional. Por meio da brincadeira, começam a aprender o funcionamento do mundo e como se ajustar a ele. Repetir um determinado gesto, tal qual empilhar ou encaixar peças, auxilia no aprendizado de noções espaciais. “Brincar é a melhor forma de uma criança construir sua individualidade, porque, ao fantasiar, resolve os seus próprios dilemas e alimenta a sua criatividade”, ensina Claudia Mascarenhas, psicanalista especializada em atendimento infantil da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP) e organizadora do livro A clínica com o bebê. Cabe aos adultos o desafio de não atrapalhar a criação da auto-estima. Os pais só entram no jogo quando solicitados. A imaginação e as regras da brincadeira ficam por conta dos filhos. “Os pais devem respeitar o faz-de-conta da criança. Quando fantasia, consegue suportar melhor as ausências e driblar as frustrações”, afirma Claudia. Entre bombardeá-las com atividades e brinquedos e deixá-las totalmente livres, a melhor escolha ainda é o bom senso. A psiquiatra dá a receita: “O que os pais precisam é simplesmente ‘permitir’ e apostar na capacidade dos filhos”. Matéria de julho de 2000